na corda bamba playlist 30 e o dia em que miles davis roubou a prenda do gaúcho

Quando a bossa nova estourou nos Estados Unidos, dez entre dez jazzistas, cantores e maestros gravaram músicas brasileiras. Miles Davis, mais até por pressão da Columbia do que por vontade própria, também não deixou passar em branco. E gravou em 1963, no álbum Quiet Nights, três faixas brasileiras. Corcovado, Aos Pés da Cruz e Prenda Minha. Até aí tudo bem. O lance é que Prenda Minha foi registrada como música de Miles e Gil Evans! Na maior cara de trompete do mundo. Mas ficou bonito que só. Pena mesmo, foi o João Gilberto nunca ter gravado o Pezinho. Sempre achei que poderia dar o maior caldo. Imaginem: aquela maciota, a voz suave no oposto do vozeirão tropeiro, cantado baixinho ai bota aqui, ai bota ali o seu pezinho…A playlist número 30 na edição número 50 de na corda bamba está na área! Divirtam-se! E vale lembrar: apoios, colaborações, ajudas, tickets, etc podem ser feitos nos botões de assinatura lá embaixo de tudo ou no pix fabpmaciel@gmail.com

Quantas versões ainda são possíveis para California Dreaming? Ainda é possível se ouvir alguma delas? Lee Moses prova que sim. A gravação dele é de 1971 e é tão, mas tão bonita que é com este cara que não chegou a virar uma estrela. que eu abro os trabalhos nesta playlist número 30 da Corda Bamba. Saravá! A Califórnia também batiza um balaco impossível de Don Cherry, acompanhado de choques de monstros como Marcus Miller, Narada Michel Walden e Michael Brecker. A crítica da época torceu o nariz e achou o disco “comercial”… Outra beleza é o som da Menahan Street Band, formada por um bando de cascudos que tocam com outros cascudos -the roots, budos band, dap-kings, black keys, etc- e logo depois Brian Eno com disco novo na parada nos lembrando que domingo é dia de sino tocar na missa. Domingo pode ter Morcheeba pra lembrar 98 e qualquer domingo fica mais bonito com a portuguesa Maro e com Norah Jones (aqui acompanhada de M.Ward) cantando. E qualquer domingo, sábado ou segunda melhoram se o Jorge Ben estiver na parada. Amante Amado é espetacular: eu quero que você me pegue, me abrace, me beije me ame e depois me mande embora mesmo que seja quatro horas da manhã que eu vou feliz da vida e vitorioso, pois eu sou o seu amante amado amor.

lee moses quase sempre no anonimato
don cherry esnobado pela crítica
maro maravilha

E se lá fora está chovendo e está fazendo frio, a Juliette e a Marina Sena já caíram dizendo que depois de uns goles de amor próprio o coração da gata fica sóbrio…aí só com ajuda de Booker T e seus M.G´s levando Day Tripper só no sapatinho…e tente ficar no sapatinho com Freddie Mcgregor em Bobbi Babylon, tente não agarrar seu amor quando Richard Marks canta Pretty Woman Pass on By. Se ela não quiser nada, cante pra ela. de preferência como Fred Astaire canta Night and Day. Ou como Wanda Sá canta Adriana. E se mesmo assim não colar, então mande um mas que nada com Dizzie Gilespie, que pelo menos acorda todo mundo. Avante com Robert Wyatt. Prestem atenção nos arranjos vocais, nas brincadeiras que ele fez nesta canção estranha e bacana que atende pelo nome de born again cretin. Será que é nascendo de novo cretino ou nascendo cretino de novo???? Milton Nascimento, no disco do trenzinho, Geraes, obra prima de 77, viver de amor, morrer de amor, sem perceber jogar a vida inteira no arGoin´Down South e eu levei um tempo pra lembrar que ela foi sampleada pelo US-3 nos anos 90. Então primeiro, a versão nada mais nada menos do que fodástica com o vibrafonista Bobby Hutcherson e o saxofonista Harold Land. Depois a versão lazy day do US-3.

mr.top hat
vagamente wanda
o disco do trenzinho
Bobby Hutcherson & harold land

Stand Back! Here comes Charley Musselwhite, seguido pelos Modern Lovers querendo viver no passado. Después, Venezuela na área com Hugo Blanco e a superbailable Domingo por la Mañana + o funk caribenho dos cabras do começo do fim The beggining of the end vindo de Nassau…e agora com vocês, o caricaturista do samba Jorge Veiga com o esperto ai meu calo, Django Reinhardt, o cigano francês que tocava violão usando somente dois dedos, que escapou de uma prisão na Suíça porque o capitão nazista era fã de jazz…acompanhando ele em Georgia on My Mind está o violinista Stephane Grappelli, que gravou com Baden Powell e que nos anos 20 tocou no Rio, na Cinelândia e na Lapa também… Gloria Groove, confesso que ainda não sei muito o que achar sobre…mas tem um clima puteiro que funciona pra rolar depois do Django, um clima pra ser quebrado com Al Jarreau arrebentando ao vivo com uma versão matadora de Take Five e a minha cabeça trovoa com Metá Metá e com a melancolia do Wilco. Prenda Minha a canção favorita do folclore gaúcho nunca teve um autor conhecido. Mario de Andrade falou dela no seu Ensaio sobre a Música Brasileira de 1928. Mas a primeira gravação aconteceu no Rio, com o parceiro de Noel Rosa, Almirante. Miles Davis e Gil Evans em Prenda Minha. O baile segue com Marc Benno, guitarrista que tocou com Leon Russel, e depois com Willie Wright, Olu Dara e Durutti Column-banda inglesa do final dos anos 70, com nome homenageando a maior brigada anarquista da guerra civil espanhola.

superbailables!
making nassau fruit drink
doutor em anedota

Voltamos com Fagner na Moto 1, uma das canções mais maneiras de seu primeiro disco, Manera-fru-fru-Manera, e Ivan Lins no Forró do Largo letra genial de Vitor Martins em tempos que não se votava pra presidente:

No forró do largo
Foi dançar o xote
Foi cheirar cangote
Foi olhar decote

No forró do largo
Foi usar a força
Foi roubar a moça
Miss do bate-coxa

Hum-hum-hum, miss do bate-coxa
Hum-hum-hum, miss do bate-coxa

Era melindrosa
De andar forçado
Cabelo dourado
E um riso no rosto

E pelo fricote
Parecia trote
Pela resistência
Ela foi por gosto

Hum-hum-hum, ela foi por gosto
Hum-hum-hum, ela foi por gosto

Do forró do largo
Foram pra arruaça
Ver como mistura
Batom e cachaça

Do forró do largo
Foram para o mato
Se grudaram tanto
Feito carrapato

Hum-hum-hum, feito carrapato
Hum-hum-hum, feito carrapato

Se amaram tanto
Que acordou sem boca
Se assaltaram tanto
Que acordou sem roupa

Acordou na praça
Com um vira-lata
Preparando o banho
Levantando a pata

Ai, ai, ai, levantando a pata
Ai, ai, ai, levantando a pata

Do forró do largo
O que lhe restou
Foi o tito’ de eleitor
Que ninguém quis lhe roubar

E que naquela hora
Lhe valeu o que vale agora
Hum-hum-hum, e o que vale agora?
Hum-hum-hum, e o que vale agora?
Hum-hum-hum, e o que vale agora?

Herbie Mann faz sua versão para Nana de Moacir Santos, Gonzaguinha manda seu Recado, um balaquinho do African Music Machine, um balacão com Don Cherry novamente, e novamente Jorge Veiga com velório no morro. E Wayne Shorter transformou e abolerou a bachiana. E ficou muito bacana, me lembrou nem sei porque do Traffic do disco Shoot out the fantasy factory, e bacana mesmo é a Eydie Gorme e Los Panchos cantando Noche de Ronda, o bolero mais lindo de todos os tempos:

Noche de ronda, que triste pasas,
Que trsaite cruzas por mi balcón
Noche de ronda, como mehieres,
Como lastimas mi corazón

Luna que se quiebra
Sobre las tinieblas
De mi soledad,
A donde vás?
Dime si esta noche
Tu te vás de ronda
Como Ella se fué?
Con quien estás?
Dile que la quiero,
Dile que me muero
De tanto esperar,
Que vuelva ya
Que las rondas
No son buenas,
Que hacem daños
Que Dan pena
Y se acaba
Por llorar.

Atenção! Ain´t got nothing com os Temptations é uma daquelas canções perfeitas. Tudo é absolutamente lindo aqui. Os vocais pra lá de apurados, o arranjo de cordas, a letra, triste, triste e linda.

You know, every house has a door and every room has a floor.
Every fence has a gate and every beast has a mate.
Everybody, everybody’s got something but me.
I ain’t got nothing
.

E se você quer sair do clube dos corações solitários, siga com a belezura de calipso de Andre Toussaint cantando Hold´m Joe e siga com outro Joe, na versão do Rappa para Hey Joe, que segue sendo foda pra caralho e ela passa a bola pra encerrar os trabalhos com Hey Joe cantada por Lee Moses, que abriu e fechou esta corda, que tá na mira, tá mira, muitos castelos já caíram, também morre quem atira…..Mas esta corda morre mesmo com João Cabral de Melo Neto lendo seu poema O Rio que fala de usinas e engenhos e vidas que se foram…

Rapaziada: sigam na corda. e lembrem, a corda conta com vocês. assinem, leiam, divulguem, compartilhem, comentem, e principalmente mandem nudes, quer dizer, mandem pix para fabpmaciel@gmail.com

beijos. PAZ!

antes dos links e da playlist, as mensagens que não param de chegar na corda bamba

do tárik de souza:

Olhaí, Fabiano:

Babi Ceresa (que nome!) também está “Na corda bamba” (kkk)

abração

Babi explica que “em ‘Corda Bamba’, o parceiro/parceira está vacilando e recebe um ‘ultimato’, 

da raquel dimantas, via melanie dimantas

oi Fabiano, adorei a playlist e aí vai a mensagem da Raquel que não usa o facebook por motivos de bebê: Eiii Fabiano!!!! Demais, demaissss o blog! Fiquei muito feliz de me incluir nele ❤️❤️❤️ Lunares é um clipe especial! achava que iria filmar com cavalos num sítio com gerador e tive que adaptar pra cachorro na casa de uma amiga 😍 foram 3 pessoas pra fazer e muita diversão. Brigada por lembrar! Bjs!

do rica guimarães:

Descobri que uma das minhas músicas estava na playlist do Fabiano Maciel e, a partir daí, tomei conhecimento do blog “Na Corda Bamba” que ele escreve e atualiza com uma boa frequência. Os textos são ótimos! Fabiano é diretor, roteirista de documentários e programas de televisão e possui uma bela trajetória. As suas playlists, no Spotify, são muito interessantes e ,sempre, vem acompanhadas de um texto no blog. O algoritmo do Spotify😮e a indicação de um amigo o levaram a conhecer as minhas músicas. Fiquei honrado de aparecer ao lado de artistas tão phodas: kraftwerk, Frank Zappa, Erasmo, Otis Redding, Dead Combo, Marc Ribot, Morphine, Elvis, Naná Vasconcelos… uau. Dá um confere!

e do olívio petit:

MEMORABILIA

“Quando ouço a palavra sertanejo, penso mais no de Euclides da Cunha, do que no Gustavo Lima.”

(Zé Mané da Zona Oeste)

Fabiano Maciel e eu somos contemporâneos no mercado audiovisual. Como ele se mexe muito e eu sou meio paradão, nos esbarramos, passamos por perto, caminhamos próximos.

Tive o prazer de travar um contato mais próximo a partir do excelente documentário “Sambalanço, a Bossa que Dança”, Globoplay, feito em parceria com Tarik de Souza, onde eles contam a história carioca dos bailes de subúrbio e sua música, enquanto a Turma da Zona Sul ia de Barquinho pro sucesso mundial.

Irrequieto que só e com a irresponsabilidade controlada que o ajuda a seguir, montou o Na Corda Bamba, um blog (acho eu q é um blog) de entrevistas com foco na informação não generalista.

O mais interessante no blog, são as ilustrações com as quais ele alimenta o leitor sobre os assuntos das entrevistas.

Nesta, que concedi (sempre quis conceder entrevista, apesar de já ter dado umas poucas) sobre algumas coisas que ele queria saber a meu respeito, tem nos links agregados, um filme curtíssimo sobre o trem noturno do correio inglês, de W H Auden.

O filmete é lindo! Feito em 1936, é narrado de forma poética, em ritmo do que hj se chama RAP (ou umas de suas variações). Foi nesse mesmo ano, 1936, que o nosso Manoel Bandeira escreveu Café com Pão, também motivado pelo ruído do trem, que li antes de ter 2 dígitos de idade e ainda me lembro de vários trechos.

Um brasileirinho razoavelmente culturalizado citaria Voo Noturno de Saint-Exupéry. Mas Fabiano tem uma cartola imensa.

O nome do Blog é Na Corda Bamba.

Fabiano Maciel é gaúcho, mas adora carioquices.

Eu tb adoro.

LINKS, LINKS E MAIS LINKS!

um texto sobre lee moses no poeira zine:

modern lovers e a namorada que não entende porque ele continua amando o velho mundo

inspirado em Django Reinhardt, Woody Allen fez Poucas e Boas, com Sean Penn interpretando o “segundo melhor” guitarrista do mundo.

no link acima, django e grappelli em 1939

ensaio sobre a música brasileira de mário de andrade. vale

um documentário sobre a coluna durruti!

hoje tem allan sieber lançando as sete vidas do gato jouralbo na livraria argumento no rio de janeiro

a foto da capa desta playlist eu tirei na exposição de brinquedos japoneses na japan house em são paulo.

o poema o rio de joão cabral

E A PLAYLIST!