parada
1.Ação ou resultado de parar: Na parada súbita do ônibus, ele pulou fora.2. Ação de interromper algo; INTERRUPÇÃO; PAUSA: Fez uma parada no trabalho para descansar. 3. Ponto em que coletivos (ônibus, trens etc.) param para subida e descida de passageiros 4. Lance de jogo 5. Quantia que se aposta em cada lance: A parada agora é de cem reais! 6. Mil. Desfile de tropas em datas comemorativas (parada militar) 7. Lista dos discos, músicas, livros etc. mais vendidos a cada semana, mês, ano etc. 8. Bras. Gír. Diz-se de indivíduo, animal ou coisa difícil de lidar, de enfrentar: O novo time do Fluminese é uma parada. 9. Bras. Gír. Pessoa atraente, ger. mulher: Essa garota é uma parada! 10. Esg. Na esgrima, ato de se defender de um golpe 11. Bras. Cap. Certo golpe de capoeira

Na portaria do prédio encontramos a vizinha que encheu a boca: Ontem o Celsinho participou do desfile. Tava tão lindo. E sabem o que aconteceu depois? O Celsinho subiu no palanque e ganhou um abraço do governador Triches. Apareceu até na tv! Subimos as escadas e quando nos separamos ouvi meu pai murmurar: Triches filho da puta. Minha mãe fez cara feia. Assim como eu, Celsinho tinha sete anos em 1972 e estudava em escola pública. Eu estava sendo alfabetizado no Grupo Escolar Cândido Rondon, que funcionava junto com a Escola Estadual Santos Dumont. Ao longo de todo aquele ano nós começamos as manhãs enfileirados cantando o hino nacional e vendo as bandeiras do Brasil e do Rio Grande subirem no mastro. Eu também desfilei, e antes de sair pra parada, minha tia-avó Coda, apelido de Leotídia, me chamou num canto e me disse muito séria: Quando você passar em frente ao presidente do Brasil você pensa, só pensa e não fala, Emílio Garrastazu Merda. Repete em silêncio e com pausa. E mí lio Ga rras ta zu Mer da. Só pra você, não conta pra ninguém. E lá fui eu, marchar cheio de euforia cívica e cumprir a missão secreta designada pela tia Coda. Soldados e armas ainda me impressionavam. Eu brincava de guerra, tinha capacete, colete, metralhadora e granadas. A Difusora, que retransmitia a Bandeirantes em Porto Alegre passava Combate, série americana que teve alguns episódios dirigidos por Robert Altman e Richard Donner. Em frente de casa, um casarão demolido era o cenário perfeito para eu, Celsinho e os outros moleques da área travarmos nossas batalhas contra os inimigos nazistas. No ano seguinte, como eu praticamente tinha decorado um gibi com a vida de Santos Dumont, fui designado mascote da escola e desfilei vestindo um chapelão e carregando solenemente uma miniatura do 14 Bis nas mãos. Mais uma vez tia Coda me deu a missão de blasfemar em silêncio contra o presidente. O governador seguia sendo “o merda” do Triches. Triches era da ARENA, e tinha sido nomeado pelos generais para governar o estado. Antes, tentou ser prefeito de Porto Alegre, mas como a eleição era direta, ou seja, o povo votava, ele perdeu para o Brizola. Tem uma história fantástica nesta eleição. Triches era um gringo da serra, um italiano de Caxias do Sul e tinha mudado pouco tempo antes para a capital. O cartunista Sampaulo fez uma charge onde mostrava Triches conhecendo a cidade, ciceroneado por um dos caciques do PSD gaúcho. A charge ajudou Brizola e deve ter sido um dos primeiros memes da história. Vale contar que o Grupo Escolar Cândido Rondon, foi uma das centenas de brizoletas, as escolas de madeira que Leonel Brizola construiu, primeiro como prefeito de Porto Alegre e depois como governador do Rio Grande do Sul.

Em 1978, o Brasil seguia na ditadura e além dos governadores nomeados, também tinha senadores biônicos. Naquele ano, a seleção foi a primeira derrotada invicta da história dos mundiais, a economia ainda não tinha se levantado do tombo da crise do petróleo e o presidente Figueiredo pediu para todos os brasileiros vestirem verde e amarelo no sete de setembro. Collor e o miliciano do Vivendas fariam o mesmo mais tarde, em tentativas desesperadas para tentar reverter o fracasso de seus governos. Mas em 78 eu já não desfilava mais no sete de setembro. Estava começando a ler o Coojornal, o Movimento, o Pasquim, o Versus. A imprensa nanica independente. Ainda pastava em quase tudo, mas lia. Eram jornais pequenos e confiáveis. No início dos anos 80 entrei no movimento secundarista. Parte por farra, parte por rebeldia, parte por idealismo mesmo. No sete de setembro do Colégio Nossa Senhora das Dores fui o representante do Grêmio Estudantil na hora de discursar. Comecei perguntando que independência estávamos comemorando e mandei em sequência uns 5 minutos de palavras de ordem e mais todos os clichês anti-imperialistas que conhecia. O discurso deve ter sido chato pacas, mas era tudo verdade. Parte da turma se escangalhou de rir, outra ficou puta, pois jovens reacionários sempre existiram, e os padres, como não poderia deixar de ser, ficaram mais putos ainda. O diretor era um ilustre membro da ordem de La Salle e um notório apoiador do governo.

Hoje, em Porto Alegre, as múmias arenistas continuam onde sempre estiveram. Na direita. A diferença é que hoje, estas múmias, ganham cafuné e beijo de língua de seus antigos opositores, os emedebistas, que, já tem um tempo, é verdade, estão na direita também. Bem ao contrário de Brizola, o atual prefeito da capital, Sebastião “Véio Velho” Melo, não construiu nenhuma escola. Mas faz de tudo pra terceirizar as que ainda existem. Nisto, ele é acompanhado por seus pares prefeitos e governadores do eixo do bem sudestino: zema,leite, tarciso e aquele miliciano que governa o Rio e cujo nome nunca consegui guardar. Assim como nunca consegui guardar o nome do atual prefeito de São Paulo. Costumo inclusive, fazer a pergunta nas ruas, para ambulantes, balconistas e taxistas. Vocês sabem o nome do atual prefeito de São Paulo? A grande maioria também não sabe. A administração do prefeito bolsonarista é uma nulidade. Mas… Mas…
Mas o prefeito de São Paulo tem a simpatia e a graça da gloriosa, imparcial e independente grande imprensa paulista. Simpatia é quase amor, e quando o amor vem com jabá, melhor ainda. Então notícia, manchete e matéria paga babando os ovos do o prefeito estão todas juntas e mixxxturadas no maior jornal à serviço do Brasil. E a jabaculândia pipocou, revelada por um site “nanico”.
Independência é algo complicado mesmo, lembro do Heiner Muller, numa entrevista pra Folha de São Paulo, nos tempos em que o jornal era mais bem frequentado. O dramaturgo alemão dizia que uma das grandes ironias da história era ver Brecht encenado com dinheiro do Instituto Goethe. O conceito “não existe almoço grátis” é usado hoje como um vale tudo pra definir o faz me rir ganho em qualquer parada. Pra mim, tá sendo uma parada ver como a grande imprensa “imparcial e independente” está lidando com dois fatos que recolocaram a verdade nos trilhos: a anulação do impitiman da Dilma e o reconhecimento do supremo de frango, que admitiu o erro histórico e escandaloso que foi a prisão de Lula. Tá sendo uma parada dura pra turma do jornalismo sapatênis encontrar argumentos pra rebater…

Em 2016 pude ver em Carolina, cidade nas margens do Tocantins, no Maranhão, uma parada de sete de setembro pra lá de linda. Acompanhados por uma bateria incrível, crianças desfilaram com cartazes contra a dengue ou com fotos de escritores famosos. As imagens entraram no primeiro episódio da Série Transamazônica, uma estrada para o passado, como um contraponto aos horrendos desfiles da ditadura.




Lembrei agora que meu pai me ensinou a cantar outros versinhos em silêncio durante as paradas:
Arroz, queremos com feijão, ervilhas queremos com leitão, porque se a pátria amada precisar da macacada, puta merda, que cagada!
Parada bacana é assim. Blasfemando. Parada bacana é como os cariocas, que usam a palavra parada pra qualquer parada. A corda agradece a chegada de Nina Galanternick, Nina Luz, Maria Alice e de Maria Regina Bellardo. Super obrigado! Não esquecem que mais lá embaixo tem a playlist 35. E lembrem-se: assim como a pátria, NA CORDA BAMBA precisa de você! Assinem nos botões vermelhos lá de baixo, ou apoiem com qualquer valor no pix: fabpmaciel@gmail.com
LINKS! LINKS! E MAIS LINKS!
esta pequena é uma parada, e uma das melhores cenas já filmadas:
–soca o pilão com o trio parada dura:
-a charge do Sampaulo
-o alegre e animado desfile da semana da pátria de franciso beltrão no paraná em 1973:
-a campanha do sete de setembro de 1978. vista as cores do brasil:
-a matéria do intercept que mata a cobra e mostra o pau do jabaculê do alcaide da garoa com o jornal à serviço do brasil:
-o globo fez editorial capiroto sobre a anulação do impitiman da dilma. ganhou uma resposta linda do lenio streck e da carol proner:
pra quem quer conhecer carolina no maranhão: https://www.viagensecaminhos.com/2021/08/carolina-maranhao.html
E A PLAYLIST!
na sensacional playlist 35:
lamartine babo, ologundê, ilessi, erasmo carlos, odair cabeça de poeta, wando, hyldon, lia de itamaracá, hermeto pascoal, joão bosco, silvia maria, maria nazareth, renato braz, airto moreira, joyce, naná vasconcellos, maurício maestro, sandra duailibe, aline, waltel branco, baiana system, chico césar, os mulheres negras, carmen miranda, beth carvalho, almôndegas, novos baianos, dona selma, jorge ben, joão gilberto, caetano veloso, gilberto gil, maria bethânia, os mutantes, rio 65, francis hime, milton nascimento, luiz gonzaga, pixinguinha, sylvio fraga, gonzaguinha, zé kéti, douglas germano, luiza maura, dori caymmi, nelson cavaquinho, paulo moura, gal costa, alceu valença, geraldo azevedo, ed motta, edu lobo, noel rosa, mateus aleluia, chico buarque e grupo yaukapiti!

Deixe um comentário