na corda bamba entrevista luiz leitão um homem que tem um nome a zerar e isto nem de longe é um problema.

Finalmente uma conversa Na Corda Bamba que não pretende ser edificante. Devido ao comportamento absolutamente bamboleante do gerente-administrador destas páginas, ou seja, eu mesmo, o conteúdo apresentado por aqui acaba oscilando entre o comunismo utópico, o trotskismo gauche, o socialismo fabiano e cristão e a mais profunda descrença no porvir. gostaram do porvir? tomara que não, porque junto com a descrença vem a anarquia, a ironia torta e a absoluta e total capacidade de se levar à sério. Dizem os religiosos que deus do céu protege os bêbados e as crianças. Muitos obrigados, meu Deus do Céu e salve o meu amigo Leitão. Parodiando o título do livro de Rex Schindler, que jamais li, há muito não tinha relações com Leitão. Ainda bem que voltei a ter. Divirtam-se. Mas antes, quem puder, assine a Corda nos botões vermelhos lá de baixo, ou apoiem com qualquer valor no pix fabpmaciel@gmail.com

das telas para as letras com rex schindler

Minhas conversas com Leitão no telefone são demoradas. Em compensação esta foi a entrevista mais objetiva que já rolou por aqui. Apesar de conhecer o cara há pelo menos duas décadas, quase nada sabia de sua vida anterior ao advento João Luiz DE Albuquerque. Pedi pre ele me mandar uma mini biografia, daquelas tipo recrutador de Linkedin que não contrata ninguém. E fui fazendo as perguntas em função da mini-bio que ele mandou. Como não sou jornalista, não posso tirar onda de gonzo. Mas posso tirar onda de entrevistador de mini-bio.

LL: Se vira com essa mini bio: Luiz Leitão de Carvalho, 70 anos, divorciado, pai de três filhos e uma filha ( 44, 42, 37 e a filha, 17)  
FM: Você pagou promessa? É religioso? 

LL:A melhor coisa do mundo é ter filho. Mesmo gastando uma fortuna pra criar. Ainda bem que comecei a ter filho na mesma época que comecei a ganhar dinheiro, escapando da classe média.   

FM: Onde você nasceu? LL: Nasci em Copacabana, rato de praia. Época que se jogava futebol descalço na pedra portuguesa.                               

FM: Família rica, classe média, pobre? LL: Desde pequenino minha mãe me levava pra igreja aos domingos. Até parar de frequentar só me lembrava de uma frase: “Ide em paz e o senhor vos acompanhe” Nem esperava o tal senhor e corria pra praia.

dispensado, ide em paz

LL: Torcedor do Fluminense, adoro ler, viajar e ir ao cinema mas tenho péssima memória para nomes e datas e títulos de livros e filmes. Sempre fui assim, não são os setenta anos. FM: repito a mesma pergunta: você é religioso? LL: Pelo amor de Deus, a mesma pergunta?

FM: qual o seu fla x flu inesquecível?  Final de 1969. A confiança era tanta que aluguei um ônibus para ir ao maraca. E apostei com praticamente todos os flamenguistas do Colégio de Aplicação. Se o Flu perdesse, não tinha dinheiro pra pagar todo mundo. Na segunda-feira fui de sala em sala, enrolado na bandeira do Flu, pedindo licença aos professores e cobrando as apostas

FM: O Fla x Flu andou em baixa, o Eurico Miranda quase conseguiu transformar o Vasco no maior inimigo do Flamengo. Acho que o clássico tá voltando a ter uma mística. LL: Mística é e sempre será Fla x Flu.

antes do nada

LL: Alcóolico assumido e abstêmio por gostar de viver. FM: A vida tem graça sem bebida? LL: Muito mais graça quando você acorda em casa, com o carro  inteiro na  garagem. FM: Tá sendo relax ou tá punk ficar sem beber? LL: Depois que vc lembra das merdas que fez, fica facinho. Só tenho uma certa nostalgia do Brunello. FM:Mas você precisou entrar em AA e outras paradas assim? LL: O AA foi o pontapé inicial. Estou vivo por milagre. Coisa que credito ao meu anjo da guarda e à minha namorada que segurou minha onda di cum força. 

brunello pra quem pode

LL: Desde os 14 viajava de carona, sem destino. Ficava parado na Washington Luiz e o destino era resolvido no banco do carona. Antes que algum engraçadinho insinue qq coisa, não, nunca dei nada em troca das caronas. FM: Por que na Washington Luis? E você ia pra onde? LL: Era mais segura que a Dutra. Ia pra onde o carro ou o caminhão fosse. 

LL: Aos 17 fui de cargueiro para Nova Iorque, sem saber que, na época, a barra em NY era mais pesada que no Alemão. FM: Explique melhor. LL: Vivia na Broadway, enchendo a cara até de madrugada. Tinha mais puteiro que a praça Mauá e de vez em quando rolava uma facada. Depois, sempre só e sem rumo definido passei por Londres (encarando, as bombas do IRA e racionamento de petróleo e luz), Munique, Innsbruck, Paris, e, claro, Amsterdam. FM: Explique melhor. LL: Uma vez tive que sair correndo da estação Oxford St. por causa de um pacote abandonado dentro da estação.

LL: Aos 22, já tendo abandonado a faculdade de economia, comecei no cinema como montador. Posso dizer, com orgulho, que tirando maquiagem e figurino, fiz de tudo no cinema, inclusive edição e mixagem de dublagem e Foley (perguntem ao Google) FM: Ok, mas peraí, você largou economia e de uma hora pra outra, como um Moisés recebendo os 10 mandamentos, você foi iluminado e virou montador? Deus protege os bebuns e as crianças…montadores, ainda não sei. LL: Influência do Cinema Pax que ficava embaixo da Cândido Mendes. Fui fazer estágio de assistente de montagem na Lynx Rio pelas mãos do Milton Montenegro. Em 3 meses já estava montando filme, cortando negativo e indo toda semana pra São Paulo levar filme colorido na Lider Cine Laboratórios.

FM: Qual o primeiro filme que você montou? Quem dirigiu? LL: “O Bom Marido” com o Pereio e Maria Lucia Dahl, direção do Antônio  Calmon. FM: Caramba! Eu sou um fã deste filme! Sei alguns diálogos de cor. Acho o Calmon um diretor pra lá de subestimado.

o bom marido. bom até hoje em dia.

LL: Aos 24 casei, aos 27 tive meu primeiro filho e, com 2 sócios, montamos a primeira e única produtora de efeitos especiais em película (computador ainda estava muito distante) no Rio. No Brasil, só nós, a Ilimitada Ltda e a Truca em SP. FM: Ilimitada Ltda, he he. LL: Ficava na 19 de Fevereiro. FM: Algum trabalho em especial pra comentar? LL: Na época da Ilimitada (74 até 77) convivi e fiz trabalhos para metade, ou mais, do Cinema Novo. Que eu me lembre: Joaquim Pedro de Andrade, Cacá Diegues, Nelson Pereira dos Santos, Leon Hirszman, LC Barreto, Ruy Guerra, David Neves, os irmãos Escorel, Paulo Cesar Sarraceni, Neville d’Almeida. Alguma história ou filme em particular pra comentar? LL: Eu estava trabalhando com o Mario Carneiro na Morena Filmes do Nelson Pereira quando o Glauber entrou, aos gritos, dizendo que o Di Cavalcanti tinha morrido e que ele precisava filmar o enterro. Pegou a câmera do Nelson, umas latas de negativo e foi fazer um dos filmes mais geniais que já assisti.

LL: Passei também pela Art Rio do Carlos Manga onde tive o prazer de conviver com Cyll Farney e Paulo Lomba, que me chamou para ajudar na instalação da Tycoon. Também teve a Sincrocine do Pedro Rovai, a Jodaf do João Daniel,  e a JB Tanko, do sweet and sour Alexandre que resolveu um dia que ia vender a produtora para mim e pro Juarez Precioso. Vendeu e algum tempo depois achou que sabia voar.

FM: O que você fez com o Manga? LL: Montei e finalizei uns 100 comerciais. FM: Você chegou a trabalhar com o velho Tanko? LL:Não. FM: Se tivesse, você poderia dizer que trabalhou com o mais e com o menos prestigiado diretores de chanchadas do cinema brasileiro. E -sour Alexandre, eu me lembro que ele não primava pela simpatia.

apesar de tudo, trabalhador

LL: O Juarez teve a feliz ideia de chamar a produtora de CaradeCão. Durante 16 anos foi uma das maiores do Brasil, com filiais em BH, SP, Brasília e Recife. FM: No início dos anos 2000 eu conheci um agiota em Copacabana, ele morava na av.Atlantica, e quando ele soube que eu fazia cinema, me perguntou: você conhece a Cara de Cão ? Eles são legais, mas como é que pode?…uma empresa ter este nome…eu não contrataria!

FM: Como é ser empresário de cinema no Brasil? LL: Um saco! FM: Como é estar tanto tempo lá no alto e….bum LL: Faz parte. O negócio é desapegar logo no início. Se não fica aquela choradeira igual quando leva chute na bunda da mulher. FM: Eu lembro de algumas histórias de prestações de contas da Ancine, consultor perguntando por que gastar dinheiro com pilhas… LL: O funcionário não sabia que microfone funcionava com pilha e bateria. FM: O funcionário responsável por aprovar prestação de contas de uma filmagem… LL: Numa reunião só com gente pica na Ancine, pedi a palavra e disse que cada vez que entrava na Ancine levantava os braços. Por definição, produtor era tudo ladrão.

Produzi dois longas: “ Separações” do Domingos de Oliveira, junto com a Clélia Bessa e “Anjos do Sol” do Rudi Lagemann (Foguinho).  FM: O Domingos virou uma máquina de filmar e de viver em seus últimos anos. O Foguinho eu conheço de passeata em Porto Alegre..acho que ele era da Avalu ou da Convergência. Ou não era de nenhuma delas. Mas era o empresário de Urubu Rei quando eu produzi o show dos Paralamas em Porto Alegre. LL: Bem que eu desconfiava que tu usava bombacha.

LL: Com os longas aprendi que festival é muito bom. Festa, mordomia, etc.  FM: E agora José? LL:Hoje estou fazendo esculturas de bambu.

o cubo mágico

FM: Pra encerrar, fale de João Luiz DE Albuquerque. Ele segue sem  ganhar beijo na boca? A última vez que falei com ele foi em 2016, e se não me engano, ele não era beijado desde 1990…LL: Sempre beijei o João na boca e sempre fui seu alter pênis.

leitão e joão
festa no meu apê
as dzi albuquerquetes denise e sylvia

É isto macacada! Esta foi mais uma edição espetaculosa de NA CORDA BAMBA! Continuem por aqui, leiam, divulguem, compartilhem, repliquem, ouçam, assinem e apoiem! Sábado tem mais! PAZ!

A foto da capa é de uma das esculturas do Leitão. Não tem nome, então tô chamando de Nebulosa.

LINKS! LINKS! E MAIS LINKS!

sobre o FLA X FLU de 69:

https://www.fluminense.com.br/noticia/em-1969-fluminense-e-campeao-carioca-sobre-o-flamengo

Nunca pensei que Rex Schindler tivesse publicado livros. Ele foi figura fundamental pro cinema baiano, pra cena cultural de Salvador do final dos anos 50 e início dos anos 60. Uma cena que fora da cidade, segue pouco falada, ou muito menos falada do que se deveria. Tocaia no Asfalto, A Grande Feira e Barravento levam o nome dele na produção.

Tocaia no Asfalto, de Roberto Pires, tem inteiro no youtube:

Na wikipedia tá assim:

O Bom Marido é um filme brasileiro de 1978, do gênero pornochanchada, dirigido por Antônio Calmon.[1]

Sinopse

O filme conta a história de um homem que, para manter seu alto padrão de vida, monta um serviço de atendimento a clientes estrangeiros, no qual sua esposa é o produto oferecido.

É isto mesmo. Mas…

carlos manga, matar ou morrer; ops, matar ou correr!

cena de entrei de gaiato, de j.b.tanko, com o espetacular zé trindade

o trailer de anjos do sol, de rudi lagemann:

o intagram de milton montenegro, responsável por colocar leitão no maravilhoso mundo encantado do cinema:https://www.instagram.com/miltonmontenegro/

atenção para a série tv brasília, onde pela primeira vez são mostradas imagens de como a turma do vivendas reamente é.

https://livrosdefotografia.org/publicacao/24904/tv-brasilia

e a série que leitão fez com montenegro, toni platão e alexandre araújo: