A derrota do Botafogo para o Palmeiras nesta quarta-feira me fez perder definitivamente a fé na humanidade. Eu sequer estava acompanhando o jogo quando vi que o primeiro tempo tinha terminado com 3×0 pro alvinegro. Não dei muita bola pro primeiro gol do Palmeiras, 3×1 é placar trair e coçar é só administrar. Mas quando o juíz expulsou o Adryelson veio aquele mau pressentimento desconforto urucubaca feelings chegando como um navio viking pronto pra ancorar no Havre. Se quiser uma comparação menos metida à besta, pense num dobermann se preparando pra correr atrás de você. Não vou entrar nas questões conspiratórias, nas tretas da CBF, e muito menos no ululante: o Botafogo campeão não faz a alegria de nenhum canal de tv, rádio ou jornal, de qualquer lugar, nem do Rio de Janeiro. Mas nada disso me veio à mente quando o Adryelson foi expulso. O que veio foi a confirmação derradeira de que o Botafogo abusou muito do direito de ser Botafogo nesta temporada. Perdeu um bom técnico, ganhou um eficiente interino que foi substituído por um coach caga regra incompetente, que não durou muito tempo, mas o suficiente para fazer o time perder a ampla vantagem que tinha na tabela. Apesar disto, ainda era uma vantagem e a parada era administrar a tabela e levar a taça pra prateleira do Mourisco. Voltando ao jogo: com um placar de 3×1 aos 37 minutos do segundo tempo, o lance é incorporar o estilo zagueiro de serra gaúcha- aquele que joga futebol como se fosse bocha- e esperar o juíz correr pro meio do gramado pra apitar fim de jogo. Aí veio o pênalti. Beleza, nem vamos precisar incorporar o estilo serrano. Mas o Tiquinho perdeu o pênalti. E logo veio o segundo gol dos verdelejos. Vendo os chifres do Olaf se aproximando da praia, corri pro mato porque já estava sacramentado e escrito na estrela solitária: fodeu! Desliguei a tv e passei a olhar o placar no celular a cada dois, três minutos. Quando ouvi o grito no bar da esquina, percebi que o time da dona do avião que fatura um faz me rir gostoso com os aposentados tinha virado o placar e eu ia ter que aturar as hordas rubro negras escancarando a boca pra gritar que mais uma vez, vamos morrer na praia. Ainda não morremos, mas a minha fé, esta foi definitivamente pro buraco. Antes de continuar lendo este lamúrio existencial futebolístico, vá lá nos botões vermelhos e assine Na Corda Bamba, o blog mais sofrenildo (acho que só perco pro diário do Allan Sieber) deste país. Você também pode colaborar com este vale de lágrimas ludopédico pelo pix fabpmaciel@gmail.com SARAVÁ!

Sou gremista de pai e mãe. Meu primeiro jogo no Olímpico foi um empate em 1×1 com o Botafogo de Jairzinho. Em 1989, com três anos de Rio de Janeiro, resolvi torcer pelo clube da estrela solitária. A identificação vinha pelos oito anos seguidos que passei vendo o colorado passear e ainda por cima, ser bi do brasileiro. Em 77, com um gol histórico do André Catimba, levamos o gauchão e nos anos anos 80 faturamos tudo, brasileiro, libertadores, mundial. A balança estava equilibrada.

Em 89 o Botafogo estava nas últimas, o presidente era um bicheiro de anedota – o atual me parece ser uma versão gurmetizada deste bicheiro, com nba na FGV e diploma de capitalista, já que é gringo que não dá mole pra kojak- mas o bicheiro pelo menos, ganhou o carioca. Ainda tá na vantagem. Os cretinos dirão que time só podemos ter um, que um homem troca de família, de sexo, troca tudo, só não troca time de futebol. É uma quase verdade. Eu não troquei nada. Eu me dei o direito de torcer pelo Grêmio e pelo Botafogo. Assim como o João Saldanha e alguns outros gaúchos perdidos pela Guanabara. Nos confrontos diretos, sempre torço pelo empate ou pra quem precisa pontuar mais. Desde 89, vi o Botafogo faturar alguns campeonatos cariocas, o brasileiro contra o Santos e vi, infelizmente, no Maracanã lotado, o Botafogo perder a Copa do Brasil para o retranqueiro Juventude. Naquela noite, ajudei a fundar a Falange Alvinegra do Jobi, que tinha o Paiva, como presidente de honra.
O Hermano Vianna tem um texto que gosto muito, sobre como os gaúchos criaram a sua rede de CTGs e à medida que foram se espalhando pelo Brasil, foram replicando seus Centros de Tradição. O texto também fala da tradição inventada do Eric Hobsbawm, mas o melhor do texto é quando ele pergunta porque ele, um paraibano, não pode ser gaúcho? Ser gaúcho tinha virado uma opção estética como ser punk, hippie ou sertanejo. O texto foi libertador. Esclareceu um mecanismo cultural, e me liberou pra ser um gremista-botafoguense sem culpa nenhuma no cartório.

Comecei o ano embalado pelo Suárez, mas um uruguaio só não faz verão em time onde quem manda é o coach Renato Gaúcho. E como todo mundo sabe, coach não é gente. E coach amigo da turma do Vivendas, menos ainda. Ingratidão? Nunca. O Grêmio deve bastante ao Renato, como jogador e como técnico. Valeu, obrigado, herói eterno, até a pé nós iremos, estamos aí para o que der e vier, mas chama outro cara, de preferência, que não seja gaúcho. Os cretinos vão perguntar, por que? Porque enquanto a mentalidade tática do futebol brasileiro for a de gente como Felipão, Tite, Renato, Mano Menezes, Dunga e outros tauras, o nosso futebol não vai ganhar nem torneio de garçom no aterro do Flamengo. A minha falta de fé com o Botafogo pode ser fatalista, supersticiosa, e veja bem, ainda não perdemos o campeonato! A minha falta de fé é que não aprendemos chongas com o 7×1, que não aproveitamos as lições das grandes tragédias pra mudar ou pra recomeçar por um novo caminho.

E como era dia das bruxas, e como no dia seguinte era dia dos mortos, e como eu não consegui dormir de universo em desencanto, liguei a tv e o primeiro quadradinho da netflix piscou pra mim dizendo, venha, venha, venha, era o Último Portal, filme do Polanski que gosto muito e que a crítica esnoba. A primeira cena é uma aula de decupagem, sete cortes em apenas 2 minutos, sete planos simples, eficientes, certeiros. E como não gostar de um filme onde o diabo é a Emmanuelle Seigner? Ainda tive fôlego pra rever os primeiros episódios de Endeavour que pela primeira vez está com todas as temporadas disponíveis no film & arts. O final do segundo episódio, me fez dormir sossegado. E recuperar, mesmo que parcialmente, a minha fé na humanidade. Morse pergunta à seu chefe, o inspetor Thursday, como ele faz pra deixar o trabalho fora de casa:
-Eu não posso deixar entrar. Um caso como este destrói a alma de qualquer pessoa. Encontre algo que valha a pena defender
-Eu achei que tinha encontrado algo.
–A música. Pode ser a música. Chegue em casa, ponha o seu melhor disco, no volume máximo, e com cada nota, lembre-se que isso é algo que a escuridão não pode tirar de você.


Com a fé recuperada, já estrou pronto pra correr dos credores e enfrentar um exército de jorges pontuais se for preciso. Até voltei a acreditar que o Botafogo pode levar o campeonato. Ontem foi o Fluminense, do mito João Luiz de Albuquerque, dos amigos Bebeto Abrantes, Luis Marcelo Mendes, Fausto Fawcett, Pedro Roberto, Miguel Pachá, Toni de Paula, Lauro Cavalcanti, Luiz Leitão, Plinio Baviera, Olivio Petit e tantos mais.
Antes de seguir com os links e com a playlist, vou colocar aqui as mensagens dos gloriosos seguradores da Corda Bamba, entre eles o super bamba Tárik de Souza:
Em sex., 27 de out. de 2023 às 18:11, Tarik de Souza <tariksouzaf@gmail.com> escreveu:
Porrrrreta mesmo!
Ser DJ de playlist não é fácil e tu consegues, tchê!
Em retribuição, envio minhas modestas aventuras com o monumental Pixinguinha, que aproveitei para enfiar na resenha sobre o livro da obra dele.
abs
Tárik
Cafuné de mestre, macaco sempre aceita. O texto sobre Pixinguinha tá nos links. E aí veio outro:
| Tarik de Souza | qui., 2 de nov., 17:46 (há 2 dias) |
A Corda não arrebenta do lado mais fraco. Conseguiste transformar a baboseira do Halloween numa edição dupirú! Mas no ótimo playlist, faltou o toque de gênio de meu ídolo Wilson Baptista, rei da malandragem e da venda de sambas. abração T
Sistema Nervoso
Deu uma hora
Deu duas horas
O silêncio em meu quarto
É pavoroso
Na escuridão
Eu escuto seus passos
No meu delírio
Ela volta a meus braços
Ela abalou
Meu sistema nervoso
Ela abalou
Meu sistema nervoso
Ela, toda noite, aparece
Me beija e some
Através da vidraça
No meu delírio
Eu me levanto e abro a janela
E só o vento,
O vento frio é que me abraça
Sistema Nervoso entrou na playlist de hoje cantada por Simonal
Paulo Tadeu, embaixador das alterosas escreveu pra Corda:
Uma fonte bem segura me garante que a foto da sua coluna é do Paulo Garcez. Comeu goiabada mole com queijo canastra que eu levei pro Rio dias antes. Minha amiga, amiga dele, levou e disse que ele adorou. Também, pudera.

Tadeu estava respondendo à minha dúvida, sobre a autoria desta foto incrível, feita na cobertura do Rubem Braga. E Garcês, por acaso, tinha subido naquela semana. Pra fechar, Cyntia Motta Martins, comentando a corda ralouím.
De areia movediça eu tinha p-a-v-or. E partilhamos quase todos os outros medos passados e atuais, tirando os ciganos, que sempre adorei. Minha avó tentou me dar medo dizendo que os ciganos roubavam crianças pra levar pro circo. E eu – oba, vou virar trapezista!
a imagem da capa desta edição mostra as cadeiras desenhadas por flavio de carvalho, que estão no mac. sinta-se e sente-se com deus. ou com o diabo.
LINKS! LINKS! E MAIS LINKS!
o artigo do hermano vianna:
https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs20069904.htm
o começo de o último portal:
endeavour:
tárik de souza pede pra devolver o disco do pixinguinha:
E A PLAYLIST!


que abre hoje com DOMi & JD BECK, uma dupla que poderia ser figurante de Trolls 3, mas isto é só o leiaute, porque o som dos caras é de gente grande mesmo. a dica foi do pena schmidt, logo depois, união black, descoberta cascuda, com uma versão acachapante do sucesso de hot chocolate, everyone’s a winner. E esta edição ainda tem dicas preciosas de Andrea Fenzl, Tagore Pereira e Carlos Eduardo Lima, uma faixa nova do R1CA e como não poderia deixar de ser, a nova dos fabulosos rapazes de Liverpool.


Fé na Perua!
1-domi & jd beck, louna´s intro
2-domi & jd beck, whatup
3-união black, yeah, yeah, yeah
4-união black, everyone’s winner
5-soothsayers, dis & dat
6-junior senior, movie your feet
7-can, vitamin c
8-lauryn hill, when it hurts so bad
9-paul mccartney, uncle albert
10-al jarreau, água de beber
11-quintetto x, c’e piu samba
12-conector, altissimo
13-annette peacock, love’s out to lunch
14-wanderléa, dança mineira
15-edson frederico, tava mas não tava
16-the black keys, all hands against his own
17-devo, uncontrollable urge
18-henri salvador, chanson surrealiste
19-james brown, september song
20-antonio adolfo e a brazuca, juliana
21-b negão e os seletores de frequência, no hay
22-moacir santos, april child
23-R1CA, viver de fato
24-wilson simonal, sistema nervoso
25-joão bosco, incompatiblidade de gênios
26-harmonic sounds band, untitled studio moves
27-irene kral, there is no right way
28-junior parker, tomorrow never knows
29-randall stephens, the music i love is gospel
30-isaac hayes, precious, precious
31-alan vega, juke box baby
32-can, moonshake
33-black uhuru, guess who coming to dinner
34-bob dylan, living the blues
35-gale garnett, take this hammer
36-traffic, light up or leave me alone
37-jonas sá, não vai rolar
38-el mató a un policia motorizado, día de los muertos
39-herbert vianna, a lua que eu te dei
40-kacey johansing, old friend
41-joe walsh, one and one
42-fiona apple, criminal
43-paul simon, hearts and bones
44-the neville brothers, voodoo
45-the style council, headstart for happiness
46-joyce, a história do samba
47-marconi notaro, anthropológica 1
48-bobbi womack, no money in my pocket
49-charlie haden, the introduction
50-the beatles, now and then
51-domi & jd beck, moon



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