Natal no sertão de São Paulo, Birigui, seguindo o Tietê, mais cem e já é Mato Grosso, onde todo mundo em qualquer hora é mad dog and englishmen, calor, sol, sogro, sogra, sítio, sorvete, cerveja, cunhados, cunhadas, sobrinhas, cachorros, gatos, galinhas, cozinha e uma barriga que não para de crescer: a minha. Antonio monta o dragão de Lego e Vicente diz que pecados são coisas que a gente pega, a preguiça é uma delas, e como ela reina absoluta, me resta fuçar na estante que fica na rua da passagem da casa, ao lado da máquina de costura. A estante é uma caixona de surpresas, pego o volume 2 da História da Civilização Ocidental, O Drama da Raça Humana, a mesma edição que tinha na estante de meu pai, encaro o capítulo do romantismo e da reação 1800-1830. McNall Burns foi o Harari dos anos 50, pelo menos no Brasil, e assim como o Yuval, acertou no atacado e errou no varejo (ou será o contrário?), mas como eu vivi o drama da raça humana intensamente ao longo dos 12 meses deste ano, ler 20 páginas sobre a transição do iluminismo pro romantismo foi sopa no mel, tão suave quanto papel de embrulhar prego. A fé, a intuição e a convicção profunda são instrumentos tão válidos de conhecimento quanto a lógica e a ciência no reino dos fenômenos. Quem disse isto foi o Kant, na Crítica da Razão Pura, que eu nunca li, porque apesar de ter sempre razão, nunca tive pureza alguma. Chinelisticamente filosofo: fé e intuição ao lado da lógica, Kant poderia ser brasileiro. E macumbeiro. Escreveria a Crítica da Emoção Pura e ia cantar junto com o Gil que a fé não costuma faiar. Fui na lotérica, ganhei 12 reais, mais 12, mais dois mil…No fim das contas, faltando algumas horas pra acabar o ano, sobrevivi. Feliz 2024 Macacada! Na Corda Bamba 83, com a playlist 53, tá na rede! E antes de ir lá pra baixo, anote a simpatia pra ter um ano espetacular: vista branco e uma cueca ou calcinha amarela. Coma uvas, lentilhas, jogue flores, pule sete ondas, acenda uma vela e faça um pix de qualquer valor para a chave fabpmaciel@gmail.com ou assine na corda bamba nos botões vermelhos do site. É batata: seu 2024 vai ter mais emoção pura e muito menos razão crítica. Ou será o contrário?

O grande lance de fuçar na estante dos outros é encontrar o que a gente já leu ou já teve na estante. Encontrar o que nunca teve e sempre quis ter, ao lado de outros que nem de grátis. Também dá pra acertar com precisão a idade do dono da estante e de seus filhos pelas lombadas nas prateleiras. Dá pra chutar quem na família comprou tal livro e quem teve a sorte ou o azar de ganhar algum deles. Nas fotos abaixo, uma pequena amostra do que rola no cafofo Arvelino de Paula.





Não encontrei muita coisa na rede sobre o Mcnall Burns. Ele dedica mais linhas pro Comte do que pro Marx, uma bobagem, pois como sabemos, além de Jesus, só Marx salva. Para Burns, o hemisfério sul, tirando a Austrália parece só existir como figuração, mas gostei de ler esta observação que ele fez sobre Adam Smith, o ídalo, o Alberto Roberto dos economistas do mercado, o mestre dos magos de Miriam Leitão:
Embora aceitasse o princípio do laissez faire, admitindo que a melhor maneira de promover a prosperidade geral seria permitir que cada um seguisse os seus próprios interêsses, era de opinião que certas formas de interferência governamental seriam desejáveis. O estado deveria intervir para previnir a injustiça e a opressão, fazer progredir a educação e proteger a saúde pública, bem assim como para manter empresas necessárias que o capital privado nunca poderia instalar.
Até Adam Smith já sabia que a mão moderadora do mercado não resolve chongas e que costeletas privatistas como milei e adjacências são palha total. Atenção economistas do mercado e jornalistas de financeiras, regulador xavier não resolve truta de faria limer.

A PLAYLIST PRA ENTRAR 2024 NO 220
Aviso logo: esta não é uma playlist celebrare. Não é playlist travoltinha na pista. É do balacobaco, mas se você tá querendo dobrar os braços e apontar os dedinhos pro céu, esqueça, não é aqui. Mas, como sempre, tá bacana demais e com 8 faixas a mais que as 51 habituais.

A playlist reveillônica começa com o acelerador de partículas da Orquestra Imperial. Tudo é bem mais do que um átomo no céu e eles fazem bloop e bleep com Gary McFarland e logo depois, pulam pra tudo que é lado no remix de Keny Dope para Luli e Lucinha enquanto Tagore deixa todos molenguitos de transar muitas vezes de um jeito foda, quem sabe daqui a alguns meses, a gente vire moda na Boa Viagem, no Humaitá, no Bosque da Saúde, na Asa Norte.
Marcelo Dai, cantor e multi-instrumentista de Belo Horizonte, se apresenta assim no spotifai: é pluralidade, liberdade, alegria e pertencimento. Eu acredito e truco uma pinga nos olhos tatuados da garçonete do mercado novo que não é novo. Vale ouvir. Bárbara Eugênia novamente, porque foi tudo culpa do amor e a flama eterna queima aqui e queima também em Guanajuato, México, onde canta Karen y los Remedios. No tapete voando junto coms los tres amigos, do México pra Bahia, onde Paulinho Boca de Cantor avisa que precisa fazer pra baiana um vestido de prata e ainda manda de quebra uma guia de Oxalá pra ela botar no pescoço. Dododedédidiududada. Seja a cara dela.
Supergrass aceleram o sapatinho e Lia de Itamaracá justifica que era apenas um trago. Um traguinho aqui, outro ali e ela não viu o tempo passar.

O nome de uma é Aselefech Ashine. De outra é Getenesh Kebret. As duas são da Ethiópia. O disco é de 1976 e é uma lindeza. Não entendo necas. Pouco importa.
Cuíca e trombone roncando, a pegada agora é esta, afirma Antônio Neves e a pegada é mesmo do balaco.
Seu endereço, nome completo, nome de guerra, tá tudo no remix de Will Connell para Wanda de Marcos Valle.
Fui criado amor de mãe
E malcriado à David Bowie
sei que tudo foi em vão
mas ao menos foi
Só estas duas frases já valem o disco das Porcas Borboletas. O disco é de 2013, a banda é de Uberlândia, prova de que nem tudo que dá no triângulo é música de trabuco cano duplo agroboi.
Barco anda com Fleetwood Mac, Tedeschi Trucks Band que é a coisa mais bacanuda do hardrockrollaroots da última década, Bully, acompanhada de Soccer Mommy, Banda Eddie, que também rolou na 52 e foi tão bacana que repetecou.
O mundialmente anônimo Maquinado e o alucinado do Quênia, KABAUSHÉ, também conhecido como Kaboshi, agora é assim mesmo, uma hora é kadafi, outra é gadafi, mas Clementina de Jesus é sempre Clementina, sempre foi e sempre será.
Bobby Womack no musicaço what is this???? A descoberta da semana, Young Fathers, que abre para Os Mutantes, que abrem pra outra descoberta alucinada, um cidadão que atende pelo singelo nome de Chief Xian aTunde Adjuah, antes Christian Scott aTunde Adjuah, trompetista da pesada que tem muita figurinha pra trocar por aqui.

Kara Jackson é dica do bandcamp e de Pena Schmidt e na real, uma faixa é pouco, só uma palhinha mesmo, vale o disco todo.

China cantando Samba e Amor é uma beleza, mas como errar em samba e amor?
Toninho Horta, Knower, The Beatles, BAMBII, Os Originais do Samba, Mulheres que dizem Sim, The Clash e Santana, balaiada na parada…

Witch Prophet é simpatia pra entrar o ano. Joe Henderson é pra colocar tudo no seu devido lugar, Gilberto Gil, porque não se pode entrar o ano sem a benção dele. Toninho Crespo, porque sem balaquinho também não se passa o ano, Stuff, porque tem hora que é preciso dar um xamejai e fumar um cigarrinho. Despues tem Moanin, crássicostandartfrigidaire com a Banda Nova Malandragem, a mesma malandragem que rola com Manolito Simonet y su Trabuco e a mesmíssima malandragem dos Sex Pistols. É bom colocar Rod Stewart na sequência, já que tudo que os Pistols queriam enterrar em 77 era o ex-coveiro escocês. Rod é bom de cancha, de chinfra e tem um pé na pilantragem, mas malandro é malandro e mané é mané e Luiz Ayrão, não entra em bola dividida e não quer ser manchete de jornal.

Tiganá Santana chega pra nos trazer de volta pra emoção pura. Poncho Sanchez e Tito Puente também. Jaimie Branch é o que a gente pode mostrar quando a turma do jazz morreu chega na parada…Fernando Sessé fez um disco pra lá de bonito com Robertinho Silva, Elizabeth Vianna eu preciso ouvir os compactos antigos urgentemente…Mundo Livre digitaliza tudo no vinagrete…Cal Tjader ataca de Orlandivo com tamanco no samba, Lou Reed canta um Romeu e Julieta na Nova Iorque dos anos 90 e Suzie Quatro primeiro amor e musa acorda e levanta todo mundo.


Na curva e nos 50 metros finais:
Tele Novella tem jeito retro de ser e de viver. Berberes e a volta do som pra viajar, Emahoy Tsegué-Maryam Guèbrou é uma pianista da Ethiópia que não se preocupa nem com a razão, nem com a emoção pura. Ela simplesmente toca. E a pista fecha com quem abre, Orquestra Imperial no refrão de artista é o caralho!
Feliz 2024 Todos, Todas e o que for! Super obrigado pra quem tá chegando na corda como a Drika Barradas e super obrigado pra quem embarcou nesta parada torta e bamba, pero limpinha.
Mais ou menos.
Saravá!
A imagem da capa é uma foto da estante da rua da passagem da casa do seu Luiz Carlos de Paula.
LINKS! LINKS! E MAIS LINKS!
saiba porque apenas os cachorros loucos e os ingleses saem de casa no sol de meio dia.
https://en.wikipedia.org/wiki/Mad_Dogs_and_Englishmen_(song)
e também é o nome de um baita disco de joe cocker em 1970:
https://www.revistas.usp.br/filosofiaalema/article/view/64848
alberto roberto: menos anacrônico que atual costeleta argentino
marcelo dai timmaiando
sobre aselefech e getenesh https://www.mississippirecords.net/catalog/p/aselefech-ashine-and-getenesh-kebret-beauties-
porcas borboletas: https://danislau.com/porcasborboletas
o twitter do knower é bem divertido de seguir
tele novella:
E A PLAYLIST!

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