na corda bamba playlist 64 nunca mais mesmo never more eleonore

Um Lugar no Mundo é um filme argentino de 1993 que pouco me lembro, a não ser de que gostei muito quando vi, que os atores eram fantásticos e que os personagens principais tinham trocado Buenos Aires pelo interior, parte para voltar pro lugar da infância, parte para escapar do ambiente horroroso do país na época. A Argentina era governada por um ditador militar. Nenhum país governado por militares funciona. Nenhuma ditadura funciona.

Lembro também que um dos personagens vivia em um sítio chamado 1789, para o dono, o evento mais importante da história toda, a revolução burguesa que derrubou a monarquia, que foi pra lá, foi pra cá, foi pra frente e pra trás, mas que no fim das contas, colocou as ideias iluministas no comando. Estou simplificando e generalizando muito, mas… mas o que importa mesmo é liberdade, igualdade e leite e isto disse um dos personagens do filme.

Lembrei do Lugar en el Mundo esta semana porque lembrei que o primeiro de abril é daqui a quinze dias, lembrei que apesar da Marielle, do 8 de janeiro, da vergonha da tentativa de golpe, lembrei que apesar de tudo isto os vivendas municipais e estaduais continuam com sangue nos olhos. Lembrei do Lugar no Mundo porque o meu lugar no mundo, e disto eu não tenho dúvida, é bem longe desta gente chinelona que se diverte censurando livros e enquadrando adolescentes que fumam maconha. Lembrei porque eu provavelmente nunca vou ter um sítio chamado 1789, mas eu ainda posso colocar uma placa na porta do banheiro aqui de casa dizendo que dura lex sedi lex, no cabelo só gumex! Na Corda Bamba edição 95 com a gomalinada e lubrificada playlist 64 NUNCA MAIS MESMO está na rede!

chuí casa de latão e menina com gato, 1996
foto: fabiano maciel

na playlist de hoje:

lindsay cooper em ação

A foto no celular me chamou a atenção para a moça tocando fagote numa banda de rock. Até o começo desta semana jamais tinha ouvido falar em Lindsay Cooper, musicista inglesa, oboísta, saxofonista, compositora vanguardista, feminista, ativista, roteirista e com vários outros istas na biografia. A primeira coisa que ouvi me deixou tão abestado que passei horas numa vibração carregada de sossego, aflição, inquietação, estranheza e sobretudo beleza. Saravá Lindsay Cooper que abre e fecha a playlist 64 nunca mais mesmo de Na Corda Bamba.

um anjo na ponte

Lindsay não foi a única surpresa da semana. Domingo Cura é um músico argentino que em 1972 gravou de forma independente Tiempo de Percusion,disco danado de bonito deste senhor que já tocou com Gato Barbieri e Milton Nascimento entre outros.

domingo cura cura domingo e só não cura meus trocadilhos infames

No começo dos anos 70 Bo Diddley, Chuck Berry, Muddy Waters e Howlin’ Wolf gravaram na Inglaterra, acompanhados por um super time local de ninjas: Eric Clapton, Stevie Winwood, Bill Wyman, Charlie Watts, Rory Gallagher, Mitch Mitchell, entre outros. Os discos viraram clássicos, ajudaram a revalorizar os americanos e deram um prestígio pros guris da rainha, que poucos anos antes eram apenas ouvintes e imitadores daqueles ilustres senhores. Tem um disco do Jerry Lee Lewis da mesma época, mas parece que não faz parte desta série. Vale procurar por todos e hoje na corda vamos de Bo Diddley!

bo bo bo di di ddley

De Bo para Blow, Kurtis Blow, de quando rap era Grandmaster Flash & The Furious Five e um que outro aqui e ali e adivinhem quem sacou logo que aquilo era mesmo poesia e bom bardo que sempre foi, logo tratou de ir dar uma canja? Mr. Bob Dylan!

De Bob pra Blow:

“Danny [Daniel Lanois, produtor de Time Out Of Mind e Oh Mercy] me perguntou quem eu andava escutando ultimamente, e eu disse Ice-T. Ele ficou surpreso, mas não deveria. Poucos anos antes, Kurtis Blow, um rapper do Brooklyn que tinha um sucesso chamado “The Breaks”, havia me pedido para participar de um de seus discos, e ele me familiarizou com aquele lance, Ice-T, Public Enemy, N.W.A., Run-D.M.C. Esses caras definitivamente não estavam por aí de bobeira. Estavam batendo tambores, arrebentando, arremessando cavalos nos despenhadeiros. Eram todos poetas e sabiam o que estava rolando. Alguém diferente estava fadado a aparecer mais cedo ou mais tarde, alguém que conhecesse esse mundo, tivesse nascido e crescido com ele… que tivesse tudo e mais um pouco a ver com ele. Alguém com uma cabeça aberta e arejada e com poder na comunidade. Ele seria capaz de se equilibrar com uma perna só em uma corda bamba estendida ao longo do universo e você o reconheceria quando ele chegasse – não haveria outro como ele. O público seguiria naquele caminho, e não se poderia censurá-lo por isso.”

Sem mais.

E se você não reparou no piano esperto que rolou na faixa do Kurtis, volte seis casas, passe na farmácia e compre uma caixa de cotonetes.

liniker vale quanto pesa nesta versão

Mahmundi convocou um time de bambas neste disco tributo ao negro gato que tem esta versão supimpa de Lineker para Vale Quanto Pesa. A corda estica com Mark Knopfler navegando para a Filadélfia , com a feira moderna meu coração é novo de Beto Guedes, com a suprema baba balançante relax total da guitarrada paraense de Aldo Sena com Saulo Duarte, a corda estica mais com a dança moderna de Pere Ubu e com o ódio de Caetano Veloso.

jamevú é já me vou em igarapé- mirim

Evan Lurie é irmão do John e junto com ele, co-fundador das lagartas de salão. Também faz trilhas sonoras para filmes como O Retrato Final, que de vez em quando rola na tv. Ele apareceu por aqui graças as minhas buscas pela Lindsay Cooper, que fez o sistema spotifai de inteligência virtual itaú personalité rebolar no hd, opa, o cara saiu do Pará e da Argentina e agora está com as orquestras de cordas e pra deixar estes cérebros de minhoca mais tontinhos, vamos de Mahmundi cantando com delicadeza o amor da morena maldita domingo no espaço, vamos de barulhos de copos e vidros e garrafas quebrando com Kim Gordon, com os barulhos telefônicos de Gabriel Ventura, que quer testar a sorte e encarar a morte de tudo que ele já fez, morte que chega com onze tiros, por engano, vingança ou cortesia, não fosse a vez daquele um outro ia, esta história contada assim por cima, a verdade não rima e Fátima Guedes só por estes versos deveria estar no ENEM, na FLIP, na Academia, nas teses uspianas e em todas as outras instâncias consagradoras beletristas da pátria.

ouçam o disco inteiro!

Este disco de 75 do Airto Moreira é tão foda que eu coloquei duas faixas seguidas na corda. O disco é um combo de monstros tocando juntos, Egberto Gismonti, Herbie Hancock, Waine Shorter, Robertinho Silva, só pra listar alguns…

Mudando o giro com uma vinheta Grandmaster Fash, uma brincadeira do The Trees e um encontro inusitado sonho profundo vendaval: Marcelinho da Lua, Moacir Luz, Lenine e Jaques Morelembaum em Corvo Cego. Outro encontro improvável: Sheryl Crow e Peter Gabriel, no disco novo da moça.

Diluição, ebulição e confusão. A gente pode dizer que já ouviu tudo isto antes, reclamar e ficar por lá, em 1977, 1986, 93 nirvana no máximo. Ou seguir adelante com os Caramelows e com Jemba Groove – porque agora temos bandas africanas em Zurique, em Berlim, Chicago, São Paulo, Santiago e até em Piracicaba porque atrás da Mogiana só não vai quem já morreu.

sônia cheia de bossa rosa pra dar e vender

Uma sequência filme sem água encanada: Frank Jorge, com intenção ou não, faz uma homenagem ao governador do rs (o gente boa, só que não) e ao prefeito da capital do estado(o véio velho), ambos privatistas de carteirinha e apoiadores de primeira hora do chefe do vivendas. Pimenta na geladeira derretendo dos outros meu fiofózis primeiro comemora a dupla vende tudo por preço de banana até mamãe se tiver quem compre e se falta luz pra um, falta água pra outros, lá vai Maria com a lata d’água na cabeça, na voz de Sonia Rosa e logo depois vai um chute direto de Guadalupe, Lan Misè, com Geno Exilie, e construção porque tocou no táxi cedo e o Antonio e o Vicente ficaram atentos no Chico Buarque deus lhe pague é de dar dó ou de doer, é de morder ou de chupar é do trabalho pro transporte, do transporte para morte com DJ Dolores e fechamos o momento com o sabor típico dos Lebron Brothers, que pra nossa sorte, não são do Leblon.

frank jorge é un tipo muy raro
jesus no controle? não, salsa no controle!

Dia destes Zeca Azevedo o batráquio mor da nação encheu merecidamente a bola de Jerry Butler e horas depois vi uma entrevista de Bruce Springsteen falando de como ele sempre gostou de ouvir e de cantar as canções de Butler. Então Hey Western Union Man em dose dupla, primeiro com Butler, depois com o Boss.

Em frente com Toni Platão, Norman Greenbaum, Pretenders, Melvin Sparks (se liguem!), Dorothy Ashby, que colocou a harpa no soul, Herbert Viana e mais uma aparição de Billie Marten por estas bandas.

billie marten lava o cabelo com um pote de geléia orgânica

Últimos 300 metros com Eagle and the Worm, Elis Regina, The Rolling Stones, The Clash, Elvis Costello, The Gladiators e The Style Council.

Últimos 100 metros com Henry Cow, banda progressiva como nunca ouvi nada parecido e que teve Lindsey Cooper como integrante, Nine Inch Nails, pra nos lembrar que a vida pode ser dura e complicada e Daryl Hall & John Oates pra nos lembrar que a vida pode ser tranquila como um velho sucesso de fm e Lindsay Cooper pra nos lembrar que a vida é um pouco de tudo isto. Saravá!

A Corda Bamba agradece a chegada de dinizmpia (quem será???) e de laura taves, salve salve turma, de grão em grão em breve, na corda uma grande corporação!

a foto da capa de hoje eu fiz no chuí em 1996.

e se liguem: djá djá, quando vocês estiverem nem numas, chegará:

em breve mesmo e com logo do allan sieber.

LINKS! LINKS! E MAIS LINKS!

uma cena de Un Lugar en el Mundo, tá em espanhol, mas a gente já viu esta cena UDR muitas vezes por aqui.

o trailer do filme:

1789 no teatro:

https://livrariavictorsales.com.br/maratsade

lindsay também vai e escreve pro cinema:

https://mubi.com/pt/cast/lindsay-cooper

outros timbres, outros tons:

domingo cura cura o domingo:

https://www.lacanciondelpais.com.ar/notas/musica/me-gusta-mucho/tiempo-de-percusion-domingo-cura.html

o blog dylanesco:

kurtis & dylan:

O disco de Aldo Sena no Grito:

e a playlist!