Converso com meu amigo Tagore, um amigo sempre apocalíptico, nunca integrado. No telefone ele canta Maria Bethânia, do disco mais melancólico -e dos mais bonitos- de Caetano Veloso: Everybody knows that our cities were built to be destroyed [Todos sabem que nossas cidades foram construídas para serem destruídas]. A conversa segue a barca da perplexidade, da tristeza, da indignação, da impotência de estar longe e de não poder fazer porra nenhuma a não ser doar uns pilas pro MTST. De chorar na frente da televisão. De ligar pra dona Cármina, saber se ela está bem, e ela está, por sorte e graça de sua amiga Denise, salve, salve muchas gracias mesmo. De ligar pros amigos pra saber se eles estão com água pra beber ou com água pelos joelhos. De lembrar do meu pai me mostrando no prédio da Mauá a plaquinha que marcava até onde tinha chegado a água na enchente de 41. De praguejar e desejar que o prefeito, o governador e todos os deputados da direita ruralista e escrotista se afoguem, não na enchente do Guaíba, mas num mar de merda cheio de todas as merdas existentes no planeta. Percebo que dos momentos históricos que vivi, absolutamente nenhum deles teve a menor graça ou charme, do tipo, estive na passeata dos 100 mil, tomei um ácido em Woodstock ou lutei com os republicanos na Espanha. Mas sobrevivi a duas grandes tragédias: a eleição do abostado miliciano e a pandemia do coronavírus. Agora vejo pela internet a cidade em que nasci ser arrasada. Logo quando eu tinha feito as pazes com ela.
No mais, enquanto formos reféns dos marginais do centrão, teremos muitas tragédias para lamentar. Uma Maceió afundando ontem, uma Angra deslizando hoje, um Brumadinho sendo soterrado dia sim, dia também. Como disse aquele francês que veio pra cá pra ver índio mas antes teve que caminhar pelo Anhangabaú: Aqui tudo parece que era ainda construção e já é ruína. E como disse aquele baiano que também disse que a verdadeira Bahia é o Rio Grande do Sul. E todos sabem que nossas cidades foram construídas para serem destruídas. O pix, quem puder fazer, faça nos links abaixo:



a imagem da capa não poderia ser outra, o cavalo do gaúcho subiu no telhado. e graças, foi salvo!
A playlist #72 da corda bamba é totalmente gaudéria made in rio grande do sul, gaúcho tipo exportação. Não é exatamente pra manter o moral elevado. Algumas canções são absolutamente premonitórias. Não foi por acaso. Algumas canções já rolaram em edições anteriores da corda. Mesmo debaixo d’água, mesmo que as senhoras do Parcão tentem dizer que não, mesmo que os cafonas da atual Carlos Gomes tentem dizer que sim, Porto Alegre ainda é a cidade mais maloqueira, chinelona, maluca e rock’n roll deste país torto e chinelão. Ouçam, chorem, etc, etc.
Saravá!
A PLAYLIST!
1-Wander Wildner réquiem para uma cidade
2-Conjunto Farroupilha moça na chuva
3-Julio Reny chove no sul
4-Hermes Aquino nuvem passageira
5-Julio Reny heróis na chuva
6-Ian Ramil lego efeito manada
7-Nei Lisboa capitão do mato
8-Clarissa Ferreira manifesto líquido
9-Vitor Ramil no manatial
10-Jayme Caetano Braun paraíso perdido
11-Flu e Carlinhos Carneiro eu quero morar no canal off
12-Yanto Laitano porto alegre blues
13-Graforréia Xilarmônica bagaceiro chinelão
14-Comunidade Nin-jitsu detetive
15-Os Replicantes surfista calhorda
16-Wander Wildner o guaíba tá pobre
17-Júpiter Apple miss lexotan 6mg garotqa
18-Jimi Joe fecha um
19-Luiz Carlos Borges barco pesqueiro
20-Clarissa Ferreira e Vitor Ramil pampa
21-Vitor Ramil indo ao pampa
22-Almôndegas séria festa
23-Elis Regina os homens de preto
24-Cenair Maicá joão sem terra
25-Julio Reny antes que a chuva caia
26-Gustavo Telles & os Escolhidos do seu amor, primeiro é você quem precisa
27-Frank Jorge a cidade
28-Graforréia Xilarmônica literatura brasileira
29-Defalla tinha um guarda na porta
30-Wander Wildner eu não consigo ser alegre o tempo inteiro
31-Bixo da Seda já brilhou
32-Jimi Joe redenção
33-Frank Jorge o que sobrou do mundo
34-Bebeto Alves e os Black Bagual notícia urgente
35-Lupicínio Rodrigues e Cyro Monteiro enquanto a cidade dormia
36-Julio Reny fortaleza da solidão
37-Clarissa Ferreira gauche
38-Jimi Joe transversal
39-Graforréia Xilarmônica se arrependimento matasse
40-Frank Jorge cabelos cor de jambo
41-Sombrero Luminoso el mundo no se mueve
42-Bebeto Alves o sul por vida
43-Ian Ramil o mundo é meu país
44-Cowboys Espirituais o mundo é maior que o teu quarto
45-Kleiton e Kledir insônia
46-Almôndegas até não mais
47-Lupicínio Rodrigues meu barraco
48-Conjunto Farroupilha azul contente
49-Renato Borghetti e Yamandu Costa laçador
50-Ana Mazzotti sou
51-Wander Wildner a vida é uma toalha estendida no varal

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