Moro numa cidade onde todo mundo tem uma missão. Do camelô ao governador. A do camelô é vender. A do governador também. O governador daqui ainda exerce a função de liquidar, bater e criar escolas militares. É uma missão: destruir o estado. Seu colega gaúcho joga neste time também.
Em São Paulo não importa se você trabalha numa puta agência de publicidade na Vila Olímpia ou se vai abrir uma hamburgueria na Vila Clementino, um armarinho, uma papelaria ou uma produtora de cinema na Vila Maria. Todo mundo tem uma missão. A hamburgueria não abriu pra vender sanduíche e o armarinho não existe pra vender zipers e linhas. A hamburgueria tem como missão te proporcionar uma experiência de vida e de afeto sensorial ao engolir um cheese-burger feito pelo chef Paolo Mastruncelo; o armarinho no mínimo vai te fazer pensar com teus botões e a produtora de cinema vai te fazer vibrar com aquele comercial da neosaldina. Resumindo: hamburgueria não é pra vender sanduíche, armarinho não é pra vender remendo e produtora não é pra enfileirar comerciais ou outros produtos audiovisuais. E todos tem uma missão e uma carta de princípios no site da firma. Sem isto, você não existe. E claro, toda missão tem compromisso com o meio ambiente sustentável e com a responsabilidade social.
Sendo assim, pra não ficar de fora desta parada chamada vida em sociedade, Na Corda Bamba publica hoje a sua carta de desprincípios funcionais, também conhecida como se liga na missão, mané!
CARTA DE DESPRINCÍPIOS FUNCIONAIS DE NA CORDA BAMBA:
*O dono desta corda, eu mesmo, tá de saco cheio de resmungar e reclamar da vida. Seguirei mandando à merda cretinos como o prefeito de Porto Alegre ou os obtusos do agro. Mas, a partir de hoje, sem perder a ternura jamais.
*Na Corda Bamba não tem princípios, tem contas pra pagar. Todas serão pagas.
*Na Corda Bamba não frequenta palavras como ressignificando, gratidão, imagética, feat e todes.
*Na Corda Bamba não acredita em “cases”. Na Corda Bamba é um case perdido.
*Na Corda Bamba também acha que coach não é gente.
*Na Corda Bamba acha que liberal bom é liberal sem representação no Congresso. O mesmo vale para ruralistas, economistas do mercado, pastores, militares e médicos cloroquinados. Pena que isto seja lenda.
*Na Corda Bamba acha que os grandes jornais brasileiros não merecem uma mariola. Na foto abaixo, um exemplo auto-explicativo, postado pelo bamba soteropolitano Franciel Cruz:

*Na Corda Bamba muito em breve voltará a ter duas edições semanais. Isto é missão. E publicar as entrevistas já feitas com Denilson Monteiro, Iole de Freitas e Guilherme Vasconcelos. Guilherme Vasconcelos inclusive, lançou um filme sobre o grande amor dele, a Beá Meira. Eu não fui na sessão porque sou um amigo sem princípios. Mas lá embaixo tem o lindo convite que ele fez.
*Na Corda Bamba vai ao ar mesmo quando não tenho nada de interessante pra contar.
*A missão de Na Corda Bamba num futuro próximo é me bancar. Por enquanto, isto é lenda. Mas uma lenda cheia de responsabilidade social e de preocupações ambientais.
*Na Corda Bamba anda tão precisada de atenção (e assinantes) que vai até voltar a frequentar o Linkedin.
*Na Corda Bamba tem muito sono de manhã.
*Tenha princípios e responsabilidade social! Viva uma experiência olfativa e afetiva! Assine Na Corda Bamba nos botões vermelhos lá embaixo ou apoie com qualquer valor no pix fabpmaciel@gmail.com
A capa da Corda de hoje mostra a carcaça de uma baleia minke que em 2007 se confundiu e percorreu 1500 quilômetros pelo interior da Amazônia até encalhar numa pequena comunidade na beira do Tapajós. Uma força tarefa conseguiu desencalhar a baleia, mas ela foi encontrada morta dias depois numa praia do rio Arapiuns. A carcaça foi parar no Centro Cultural João Fona em Santarém, onde eu vi a ossada e nunca esqueci desta história. Daria um belo filme. E ainda serve como metáfora pra uma porrada de coisas com e sem princípios.
Saravá!
na playlist#74:
Fabi Reyna é uma garota mexicana que toca guitarra e gosta de músicas do Peru, da Colômbia e do Congo. Ela forma junto com Nectali Diaz a dupla Reyna Tropical que mistura latinidades, lo-fi e ativismo lgbt. Reyna Tropical é uma das coisas mais bacanas destes tempos estranhos. Dose dupla reinando e abrindo a playlist 74 de Na Corda Bamba.

Sergio Mendes fez nos States em 65 aquilo que no Brasil só Ed Lincoln, Durval Ferreira e Orlandivo tinham tido coragem de fazer: botar a bossa nova pra dançar. Seus discos carregavam uma palavrinha mágica que muitos fugiam como o diabo na cruz: POP. Tocou muito e vendeu pacas. # Renasci das cinzas feito Fênix, desassossego dos meus inimigos. O disco novo da Kátia de França lava a alma de quem acha que ainda se pode fazer música regional e POP neste país. Só falta as estações de rádio descobrirem. Só falta tocar muito e vender pacas. # Mais psicodelismo latino com os Hermanos Gutierres num trabalho produzido pelo supersônico Dan Auerbach. # Baco Exu do Blues tá pouco se lixando pros bons modos e fez o que nenhum rocker teve coragem de fazer: mandar o governador gaúcho ralar nas ostras. #Rodrigo Damati é um gaúcho baiano paulista mineiro andarilho e infografista que faz uma bossa mezzo fofa mezzo melancolia mezzo tempos estranhos. Mas temos que ouvir porque vale.

# dobradinha, mocotó, mondongo sem carne de pescoço e há quem sambe pra ver os outros sambar e eu sambo pra ver a Roberta Sá cantar um samba quente harmonioso e buliçoso e ontem na roda de samba na casa do Zeca pediram pro Gil cantar Mancada e ele disse que era um samba difícil e o Zeca disparou na lata: Porra! Nem o Gil que fez a música sabe cantar ! Mas cantou e eu só pensei em como nunca tinha reparado nesta pequena obra prima, escondida no primeiro elepê do Gilberto Gil?! Que Mancada! # Capitão George Clinton à bordo de sua espaçonave Parliament, toma de assalto a estação de rádio e ordena ao mundo que funke-se quem puder.
Depois fui para o Sul e ouvi um funk com alguns ingredientes principais
Then I was down south and I heard some funk with some main ingredients
Como Doobie Brothers, magia azul, David Bowie
Like Doobie Brothers, Blue Magic, David Bowie
Foi legal
It was cool
Mas você pode imaginar Doobiein’ seu funk? Ho!
But can you imagine Doobiein’ your funk? Ho!
WEFUNK, nós funk
WEFUNK, we funk
Fazer meu funk o P. Funk (ho)!
Make my funk the P. Funk (ho!)
Eu quero meu funk uncut (Ah, fazer a minha)
I want my funk uncut (oh, make mine)
Fazer meu funk o P. Funk (Sim)
Make my funk the P. Funk (yeah)


#Jards Macalé na fodástica Olho de Lince parceria com Waly Sailormoon Salomão , presente futuro passado tudo sentido, reviro na mão o dado e Lena Rios, em faixa de seu compacto Sem Essa, Aranha! Descobri que Lena é piauiense, desceu pro Rio no começo dos anos 70, gravou com Torquato Neto, Fagner, Raul Seixas, voltou pra Teresina onde trabalhou como jornalista no rádio e na televisão, pelo que entendi fazendo um programa policial. No fundo, no fundo underground e plantão de polícia combinam. A última notícia encontrada é que em 2021 foi internada em estado grave…

Guizado apresenta uma miríade de realidades coexistentes que entram em colapso no multiverso. Óticas do povo, morou? # Anja Garbarek canta que é uma beleza. A moça é filha do saxofonista norueguês Jan Garbarek, figurinha fácil nos discos da ECM e de uma turma que incluia Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos.# Ver “Pintando com John Lurie” na madrugada é diversão garantida. Na corda de hoje, ele cantando Small Cars # Quase na mesma levada, mas com muito mais suíngue, patumbalacundê com João Donato. Puta madre, quanto mais escuto, mais eu descubro chinfras e bossas numa parada que aparentemente é simples demais. Coisa de monstro # Criolo manda esperança com Dino d’Santiago e Amaro Freitas. Coração na extensão. Nas voltas que o mundo dá. #Cannonball Adderley volta e meia aparece por aqui. Hoje volta muito bem acompanhado com Miles Davis, Hank e Sam Jones e Art Blakey. Se liguem! # Samba A, da dupla Durval Ferreira e Maurício Einhorn, na versão dos Catedráticos, o conjunto de ninguém mais ninguém menos que Eumir Deodato.

Muda o giro com Television e Jeff Beck # muda o giro com Silva, céu azul e água de coco não faz mal pra ninguém. # E alguém lançou um disco chamado A Revolta dos Hipersensíveis. Tempos estranhos…porém música boa. Polivalente é o nome da figura # Em 2017 a dupla MGMT lançou um disco chamado Oracular Espectacular, que fez um barulhinho na indiada alternativa. Os caras estão de volta e hoje vai só uma palhinha porque o Elvis Costello tá com pressa pra chegar. #2manydjs tocou semana passada em São Paulo. Eu não vi. Mas meu chapa Luis Marcelo Mendes pegou um busão na Novo Rio especialmente pra ver os caras abrirem mixando Sepultura e passou o resto da semana falando disto. Eu ainda estou tentando entender como neste mundo da cena eletrônica você digita o nome de alguém e este alguém aparece com o nome de outro alguém. Tem sempre um artista, outro artista e os remixadores. Na corda de hoje, tem o Tiga e o Soulwax remixados pelos dois menidejotas# Dandara Modesto mora em Zurique. Dandara Modesto se diz estrangeira. E daí? # Veste a calça calça o sapato que clareou e Paulinho Boca de Cantor faz qualquer um avançar sete casas no tabuleiro. # Sequência destrambelhada 1 com Afroito, Talking Heads, Paul Weller e Smash Mouth. Sobre esta música do Smash Mouth: Não pode ser mais farofa. Não pode ser mais óbvia. Não pode ser mais pilantra, mas é impossível não gostar. # Sequência destrambelhada 2 com Jalen Ngonda, Marvin Gaye, The Beatles e Witch # Sequência destrambelhada 3: Los Paraguayos, Jeff Beck bisando, A Cor do Som e Stevie Wonder.


Mahmundi e Beth Gibbons é uma dobradinha inusitada, eu sei. Mas se repararem bem, dá liga. # bis de Lena Rios e uma descoberta: Flor de Mururé, artista trans de Belém. Vale ouvir o disco inteiro # Na curva dos 100 metros, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Osmar Milito que fez aniversário esta semana (83 anos de bons serviços prestados ao piano!) e como sempre, quem abre a corda, fecha a corda: Reyna Tropical.

LINKS! LINKS! E MAIS LINKS!
love is all:

reyna tropical e ouse dizer que fabi não é foda:
hermanos gutiérrez:
das coisas muito bacanas que a gente encontra: pedal steel noah. Noah e seu irmão Nate gravam quase toda semana uma música e jogam nas redes. sempre nesta posição, sempre com o cachorro olhando pra câmera:
ethiopia skate! não sei se a ong é 171. mas os vídeos são espetaculares e pelo menos na página, parece ser uma ação muito bacana:
baco exu do blues mandando o governador bolsotênis do rio grande do sul se foder:
https://www.uol.com.br/splash/noticias/2024/05/25/baco-eduardo-leite-show.htm
um artigo cabeção sobre Sem Essa, Aranha!
Luiz Gonzaga em Sem Essa, Aranha!
prá quem tá no rio:

não li, mas já gostei e já encomendei o meu. márcio pinheiro é chapa, amigo de uma época em que não precisava escafandro pra andar em porto alegre. o taura é ponta firme, escreve que é uma beleza, só pena que vote muito mal. mas isto tem cura. imagina o contrário, se ele escrevesse mal? aí só ia restar pra ele ser da equipe do véio véio…pois bem, ele também é o piloto-junto com cássia zanon– do blog amajazz. uma dupla parcialmente culpada pela existência da corda bamba.
beth gibbons solo!
uma matéria de 2021 no geledes sobre flor de mururé:
e a playlist!

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