Lembro que nos anos 90, quando Arnaldo Jabor mudou do Rio para São Paulo, uma das primeiras coisas que ele passou a fazer na sua coluna naquele jornal que acha que tem um país à seu serviço, foi babar o ovo da pauliceia. E babar o ovo da pauliceia significava desancar a antiga capital do país. “As calçadas de Ipanema são tortas”, reclamava o velho cinemanovista. “As pedras portuguesas estão desniveladas”. O desnivelamento das pedras portuguesas era a pedra filosofal, a prova irrefutável de que a civlização no pão de açúcar de cada dia estava extinta para sempre. São Paulo é o único lugar do Brasil onde existe capitalismo de verdade, e ele enchia os pulmões criados na tijuca pra afirmar, naquele exagero de cristão novo convertido, só faltava dar um beijo de língua no obelisco de 32. Como bom tucano, Jabor provavelmente nunca deu um rolê fora de Higienópolis ou dos Jardins. Se ele desse uma esticada até a Saúde, perto da Av.Ricardo Jafet, certamente a crônica teria sido outra. Moro numa rua com um dos IDHs mais neurastênicos da cidade. Tem pra todos os gostos: Classe média bem alta, bem média, bem baixa, ex-média virando baixa sem tendência de alta (acho que tô nesta), baixa, baixa-baixa e já temos alguns mendigos de estimação nas redondezas. Só falta o andar toptop, e se alguém desta casta de 1% vive por aqui, este alguém disfarça muito bem. Mas eu lembrei desta crônica do Jabor (nem sei porque, nunca esqueci dela), porque hoje fui levar o Vicente pra pedalar num parquinho inaugurado há menos de um ano aqui perto de casa. Pedalar por 5 quadras pela calçada é uma missão impossível. Se você tiver um bebê ou um carrinho de bebê, esqueça. Se você tiver alguma dificuldade de locomoção e conseguir se locomover, parabéns, sua medalha paraolímpica tá garantida. O desnível na calçada é a metáfora que o Jabor nunca viu pro desnível da calçada pra porta de dentro de casa. Só que o lixo, o entulho e a buraqueira na rua não são metáforas pra porra nenhuma. É só incompetência do atual prefeito (apoiado por quem mesmo???). Fico pensando que boa parte dos moradores destas calçadas são adeptos do coach não é gente. Não sei se as calçadas sobreviverão. Como eu morro todo ano, acho que dou conta. Não tenho outra alternativa mesmo. Enquanto isto, um olho na calçada, outro pro céu. As árvores estão secas. E a minha conta também. Quer ajudar? o pix é fabpmaciel@gmail.com ou apoie a corda nos botões vermelhos lá de baixo. As fotos do bairro que estão na edição de hoje são minhas. E a playlist 86 tá foda, tem a nova do Stevie Wonder– e aqui eu tenho que falar de outra parada que rolou nesta semana: revi por acaso Alta Fidelidade, e peguei na cena em que um senhor entra na loja e pergunta se tem o disco com I just called to say i love you, que ele quer comprar pra filha. Jack Black expulsa o cliente, dizendo que naquela loja ninguém perdoa os deslizes dos gênios do passado. A questão é: quem disse que a trilha de Woman in Red é um deslize? Quem disse que tem algum disco ruim do Stevie Wonder????? Não por acaso, o filme termina com o protagonista gravando uma fita para sua amada, cheia de maravilhas pop de Mr.Maravilha. E a playlist deste domingo está como o IDH da minha rua: Uma beleza de neurastenia. Tem Jack White, Paulinho da Viola, Cartola, Gong, Professor Long Hair e Piazzolla, tem Yusuf-Cat Stevens e Juçara Marçal, Mano Brown e Quincy Jones, uma violonista da pesada, Gabriele Leite e uma portuguesa que ainda vai dar o que falar: Ana Lua Caiano. Quem não dança segura a criança! SARAVÁ!

memórias curtas, pequenos delírios e reflexões tortas:
o morumbi agora se chama morumBIS. eu não sabia. mas isto importa?
no rio querem privatizar o jardim de alá. alálaô ÔOOOOôoooo. um oásis de oportunidade com o patrimônio público.
huck foi babaozovo do zélenski. zélenski não babouozovo do huck. huckaécio/huckguaiadó/huckmoro/huckbolso/hucktarciso/huckcamposneto. huck tá sempre junto de gente ruim pra caralho e quem só anda com gente ruim pra caralho é ruim pra caralho também. podia mudar pra ucrânia, fazer o caldeirovski do huck, ressignificando as…as…sei lá, ressignificando o mercado em tempos de guerra. quem sabe rola um ensaio na vogue.
dona miriam leitão acha que o x não deveria ser vetado pelo xandão. o huck também, o moro também e a turma do oito de janeiro também. é fácil. se eles acham que está errado, é porque está certíssimo, óticas do povo, morou?
em outra madrugada desta semana: tv ligada no canal brasil, série sobre a boca do lixo. na tela aparece um senhor com um rosto bem familiar. falo pra miriam: é nosso vizinho! aquele senhor que passa um tempão de papo na portaria. o seu waldomiro reis. descubro que era cenógrafo, com dezenas de filmes da boca, mazzaropi e outros na carreira. no dia seguinte pergunto pro zelador, onde anda seu miro? tá no hospital. ontem ele se foi. aquele abraço seu miro. se o mané aqui soubesse, teria ouvido muito suas histórias.
não deixa para amanhã o que não fez no mês passado.
não deixe para ontem o que não pode ser feito agora.
hoje eu sonhei contigo e não caí da cama. hoje eu nem sonhei.






e um texto desnivelado e esburacado sobre a playlist 86:


a espetacular playlist 86 de na corda bamba começa com dez minutos de isley brothers chamegando carole king, it’s too late, pero nunca é tarde e se você ainda tá na cama e se não tá sozinho ou sozinha, é hora de aproveitar, antes do café e do primeiro cigarro pra quem fuma, só mais dez minutos, é domingo, quer mais tempo? mais alguns minutos, jorge ben jor ensaiando na Itália, moça, ben samba ben blues, e se ainda nem dormiu, tem mano brown, boa noite são paulo, sozinho na multidão, sabes que vou partir com o coração ferido com cartola e se já levantou e se já correu, já andou, já pulou, juçara marçal e kiko dinucci sinalizando pra abrir o caminho que o sentinela está na porta e a polícia também, run joe, corre que a rapaziada do the kingston trio te ajuda, nem que seja no berro, corre que sempre se escapa nas cordas de gabriele leite, sempre dá pra se perder na batida de louis banks, sempre dá pra morrer novamente, até pra quem já morreu no ano passado mas sempre se pode acordar ao meio dia num dia de sol, no belo projeto acorda amor, que tem letrux cantando belchior e xênia frança cantando leci brandão e a corda estica com guilherme lamounier dizendo que a vida espera quem corre atrás dela, eu corro muito, mas fico como cachorro mordendo o próprio rabo…big calm, morcheeba pra relembrar. e aí eu acho um disco da orquestra de ray brown com arranjos do quincy jones. e aí descubro que a música é do tom jobim e que originalmente era pra um filme baseado no best-seller de harold robbins…o filme foi renegado desde sempre e a trilha original do tom também. no site do instituto tom jobim tem esta explicação que explica um pouco mas não explica tudo:
Dentre os temas que foram transformados em grandes sucessos, está a canção Children’s game, que mais tarde veio a se chamar Chovendo na Roseira, com letra de Tom Jobim em português e letra em inglês, de Gene Lees, virando “Double rainbow”. A gravadora americana Varèse Sarabande decidiu em 2012 ressuscitar a trilha, mas não a original, lançou nos EUA uma nova edição da música ‘trashy’ The Adventures com arranjos do maestro norte-americano Quincy Jones e a orquestra de Ray Brown, conduzida pelo próprio. Tom estava no auge de sua popularidade nos EUA, tinha gravado com Frank Sinatra dois anos antes, quando aceitou assinar a trilha para a superprodução The Adventurers, baseada no romance popular de Harold Robbins. O filme foi renegado até por seu diretor, que o considera um desastre monumental, apesar da fotografia de claude Renoir, o filho do pintor, e um elenco de estrelas, de Candice Bergen a Olivia de Havilland, passando por Ernest Borgnine e Charles Aznavour. Talvez o filme não tenha merecido a bela trilha que tem. Paulo Jobim, filho do maestro Tom, desconfia que o pai ignorava o roteiro de Lewis Gilbert e Michael Hastings. Lamenta que a Paramount não tenha reeditado a trilha original em CD e revela ter comprado há anos para o Instituto Tom Jobim a versão de Quincy Jones, num leilão pela internet.

ana lua caiano, choque de monstrinha que vem de portugal pra confundir tudo e depois dela só tom zé e duas novas do jack white e o cabruêra proibindo cochilar e a teresa cristina com o bossacucanova deixando pra lá.
e eu vou deixar pra lá este texto. tem mais 27 faixas nesta playlist.
descubram, desfrutem! bjs!


na playlist # 86:
the isley brothers it’s too late # jorge ben jor moça # mano brown sinta-se bem com o boogie naipe # mano brown boa noite são paulo # cartola amor proibido # juçara marçal e kiko dinucci padê # the kingston trio run joe # gabriele leite cinco bagatelas # louis banks song for my lady # letrux sujeito de sorte # xênia frança assumindo # guilherme lamounier vai atrás da vida que ela te espera # morcheeba let me see # quincy jones & ray brown fat cat strut # ana lua caiano o bicho anda por aí # david wertman camel # jarbas mariz eu quero jogar cartas# tom zé chamegá # jack white old scratch blues e that’s how i feeling # cabruêra e proibido cochilar # teresa cristina e bossacucanova deixa pra lá # anelis assumpção eu gosto assim # mano brown mulher elétrica # donatinho e joão donato de toda maneira # primal scream love insurrection # king floyd groove me # ringo starr nashville jam # fine young cannibals time isn’t kind # brasov quem não quer sou eu # the specials man at C&A # dolores forever concrete # loundoun wainwright III me and my friend the cat # joão donato e mais uma penca de gente forever more # ambitious lovers omotesando # michelle cathy # golden sounds see you again # gong radio gnome e you can’t kill me # yusuf-cat stevens music # the regime sunny day # don covay everything i play is funky # professor longhair her mind is gone # almann brothers band jelly jelly # sam cooke i’ll come running back…# os mulheres negras música serve pra isto # paulinho da viola argumento # astor piazzolla deus xango # oriki xango # stevie wonder can we fix our nation’s broken heart? # the isley brothers keep on walkin’
LINKS! LINKS! E MAIS LINKS!
A cena de alta fidelidade:
ana lua caiano !
o trailer de the adventures 1970
e a playlist!

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