na corda bamba vai ao monte olimpo, não bebe o néctar, não come a ambrosia e volta de lá com a cabeça mergulhada no labirinto do kaos.

Pro diabo com o saudosimo. Pro diabo com o antigamente era melhor. Agora, porém, entretanto, pensando bem, a parada é que de modo geral, tá tudo muito mediano, tudo muito tico tico no fubá, sem vastas emoções e quando as vastas emoções aparecem, elas são quase sempre do tipo bode preto na sala, como uma nova praga que ainda não tem vacina e que vai matar milhares de pessoas ou uma nova leva de médicos anti-vacina, um novo bombardeio em gaza, um coach siderado na tv, um economista dando palpite no jornal, uma inundação, uma seca, um incêndio ou um paquetá na seleção. Vastas emoções deprimentes e muitos pensamentos imperfeitos. Tudo mezzo, tudo no formato standard frigidaire e até as séries da Netflix estão cada vez mais parecidas com uma página do Linkedin ou uma agenda da Hallmark. Falsas emoções e pensamentos peter perfeitos. Não adianta chamar a Nicole, não adianta trazer a Isabelle de volta para o mundo dos vivos, não adianta nem convocar a Susanne Bier pra dirigir. Tudo fica com cara de festa da firma e a gente já viu coisa mais forte na novela das oito do Gilberto Braga. Agora, porém, entretanto, pensando bem, sempre tem a Grécia. Os gregos estão aí, dando sopa pra gente tem uns 3000 mil anos. Tá sem ideia? Medeia. Tá sem crédito? Édipo. Até rimar é fácil. De Monteiro Lobato à Zé Celso, do Camus ao Cacá, do Manual da Maga Patalógica ao Woody Allen, todo mundo tira uma casquinha do Partenon e da Acrópole. E Kaos, que tá rolando na Netflix tem a sua graça. Zeus e Hera vivem num Olimpo igual a mansão de cantor de sertanejo universitário. Nunca a frase agradar gregos e goianos fez tanto sentido. Dois mil anos depois dos romanos acabarem com a festa, ser Zeus é ser muito cafona. Todo o ideal helênico, toda a herança do classicismo, civilização meuzovo, coluna dórica é a mãe, coluna jônica que se foda, tudo foi pras cucuias numa barca de caronte que singra as águas do rio Estige e despenca numa jacuzzi dourada, se reflete num motel vidro azul espelhado e se petrifica no mármore falsificado à la vivendas da barra da tijuca. Jeff Goldblum faz um Zeus paranóico e psicopata, um Zeus trumpista, elonista, zuckerberguista…Um ator indiano, um eri johnson versão norte global faz um dionísio putanheiro como deve ser um dionísio, só que mais perdido que adolescente decidindo se vira vegano ou se devora um eggcheesbacon na madrugada. O Orfeu é blasé, tipo cantor de banda inglesa desconhecida e a Eurídice é super cool e tenho certeza que eles lembraram da Marpessa Dawn subindo o morro quando escolheram a moça. E tem o Prometeu, preso eternamente numa rocha, com o fígado sendo devorado por uma grande águia. Prometeu é a antevisão, o defensor da humanidade, que roubou o fogo de Héstia e entregou para os homens. Prometeu é a sabedoria. Nos anos 30, Gustavo Capanema, o ministro da Educação de Vargas encomendou ao suíço Jacques Lipchitz uma escultura de Prometeu para colocar na fachada do prédio do Ministério. Lipchitz via no Prometeu uma resposta ao fascismo, uma defesa contra a intolerância e contra a barbárie, e ele enviou de Nova Iorque, um primeiro molde, em formato reduzido, pro ministro aprovar. A pressa era tão grande que Capanema não quis esperar e mandou forjar o molde de escala reduzida. E assim o Rio de Janeiro ganhou o primeiro prédio público moderno de verdade do mundo, com fachada de vidro, paineis do Portinari e um Prometeu acorrentado, que a população carioca logo tratou de chamar de monstro anti-diluviano ou de Batatais levando um frango. Batatais era o goleiro do Fluminense. No Brasil até os gregos se dão mal. Deve ser por isto que estamos sempre na promessa. E mesmo sem termos o dom da antevisão, sempre tem alguém pra comer o nosso fígado. Neste final de semana, cheio de vastas emoções deprimentes, ainda sem digerir o bode preto águia carniça devorando o estômago, e todo o resto da tragédia anielle-silvio almeida-ong financiada pelo uber, de mais uma micareta dos jesusnagoiabeira, eu fico pensando aqui nos meus 12000 trabalhos de Hércules e ainda tenho que lidar com romanos, que se incomodam pacas com questões identitárias, mas não se incomodam nem um pouco de tocar uma harpa babosa lavanda lanolina com negacionistas de todas as mitologias. A todes estes arrombades privatistes, racistes, negacionistes e direitistes, eu desejo o meu bom e velho vão tomar no zeus olhos do cu. Na corda bamba edição 118 está na rede. E a playlist 87 vem junto, como sempre, fazendo a alegria de deuses, titãs, deusas, semi-deusas, musas, ninfas, paraninfas … Saravá! A corda agradece a chegada da Waleska Reuter e se você quiser assinar a corda, é só descer nos botões vermelhos. Quem quiser apoiar com qualquer valor, a chave pix é fabpmaciel@gmail.com E não se esqueça: Zeus está conosco até o pescoço. A foto da capa desta edição é minha e mostra a Medusa da cozinha, a cabeça de vento porta saco plástico ding ling que vive abrindo e tentando me transformar em pedra. Sai coisa ruim!

Lipchitz e o prometeu anti-fascista
o prometeu do capenama

na playlist # 87:

Meu amigo Carlos Eduardo Lima, do Célula Pop, fez uma das mais óbvias, porém certeiras definições sobre Sérgio Mendes: era brasileiro quando tocava pop internacional e internacional (ou estrangeiro) quando tocava música brasileira. Na playlist 87, algumas das versões dele para sucessos dos anos 60 e suas gravações originais. Sérgio Mendes cruzou a barca de Niteroi e a gente agradece muito por isto. Na edição de hoje, brasileiros que fizeram sucesso lá fora e estrangeiros que bebem água que passarinho não bebe.

Mestres Navegantes-Comitiva de São Benedito de Bragança Folia da Alvorada # Sérgio Mendes Coisa n2 # Simon & Garfunkel Scarborough Fair # Sérgio Mendes Scarborough Fair # Buffalo Springfield For what is worth # Sérgio Mendes For what is worth # Renato Teixeira, Antonio Adolfo e Anna Selton Esperando por você # Erasmo Carlos Dois animais na selva suja da rua # Miriam Makeba Xica da Silva # Gilberto Gil sarará miolo # Lia de Itamaracá Meu cachorro peri fui pra escola…# Henri Mancini Mambo Parisienne # Suba Antropófagos # Amadou & Mariam Ce nes’t pas bon # Antibalas Gabes new joint # Gabriels offering # Gabriels & Ashley Sade loyaty # Ya Ya Bey Meet me in Brooklin # Patti Smith redondo beach # Adrian Younge esperando por você # Hyldon Aconteceu em geribá # Harlem Pop Trotters mocassin # Bill Withers the same love that made me laugh # Robertinho do Recife briga de rua # Rogério Skylab a fome a beleza e o caos # Tom Jobim captain bacardi # Jus ponteio # Vicente Barreto falndo sério # Kevin Johansen down with my baby # Alberto Continentino tic tac # The Marias love you anyway # Bob Marley crazy baldhead # Pretenders lighting man # Sly, The Family Stone Brave and Strong # Cortex sabbat p1 e huit octobre 1971 # Thomas Dolby, the hability to swing # Sérgio Mendes look around # Joe Pass Dindi # Medeski, Martin & Wood I wanna ride you # Suba e Taciana você gosta # Eddie Bo I got the blues # Gil Scott- Heron Johannesburg # Jerry Garcia Band after midnight # Cat Power after it all # The Beatles long, long, long # Maria Bethânia e Gal Costa sol negro # Letieres Leite coisa n2 # Sérgio Mendes yes, yes e fanfarra

brazil 66
the gabriels
suba subiu cedo demais

LINKS! LINKS E MAIS LINKS!

kaos!

orfeu sobe o morro com vinícius de moraes:

https://viniciusdemoraes.com.br/pt-br/teatro/orfeu-da-conceicao

orfeu em tecnicolor:

você sabe quais foram os 12 trabalhos de hércules?

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quais-foram-os-12-trabalhos-de-hercules

não fique complexado por não saber lhufas de psicanálise e mitologia grega! eu não li, e nem sei se é bom. mas…

medeia de pasolini:

e a playlist 87!