Da janelinha do teco-teco dava pra ver a cidade de Paramaribo, o rio Suriname e a Ponte Jules W...Eu estava espremido na rabeta do avião, ouvindo o que dava pra ouvir do Neil Young dizer que poderia viver pro resto da vida com a garota de canela. Na minha frente, carregados de equipamentos até o pescoço, iam João Costa e o Fábio Nascimento. Na frente deles, o piloto indiano e o Reynaldo Zangrandi, filmando tudo. Fazia pouco mais de 5 minutos que o avião tinha decolado e tudo ia bem nos céus do antigo holandistão do sul. Temos que trocar de lugar. O que? Temos que trocar de lugar. Deu ruim. Reynaldo tava com um manche na mão. Não deu tempo pra entender ou pensar. Não deu tempo nem pro susto. Foi a mais rápida e ridícula dança das cadeiras voadoras que já vi. Rey pulou pra trás, o piloto pulou pro lugar dele, Rey pulou de volta pro lugar do piloto. O Cessna 172 é um clássico do garimpo, o fusca das matas. Naquela manhã ele quase nos deixou na mão. E quando encostamos de volta na pista, o Neil Young já tava pedindo pra ela levar ele pra longe, pra além do arco-íris, pra juntos irem down by the river. Na Corda Bamba, edição # 132, acompanhada da supersônica playlist # 101 chega voando baixo na rede. E atrasada, porque não é todo sábado que o Botafogo é campeão da Libertadores e não é todo domingo que o Grêmio escapa do rebaixamento e não é toda segunda que eu fico sem vontade de fazer nada. Saravá.

A viagem foi curta: dois dias em Paramaribo, dois no garimpo, mais um em Paramaribo e voltamos pro Brasil. O pouco que ficou na memória foi o que vi da janela do carro e dos quarteirões que caminhei no centro. Paramaribo foi mais fotografada do que vivida. Três anos antes, eu tinha conhecido alguns jovens diplomatas do Suriname. Eram todos negros fazendo curso num Itamaraty branquelejo total. Suriname is a melting pot, eles me disseram. E era, mas com alguns detalhes: no almoço, brancos, negros, indianos, javaneses, chineses, todos no mesmo restaurante. Mas cada turma na sua mesa. O melting pot, pelo menos naquele restaurante, não se misturava.




Nosso anfitrião era um sujeito de fala mansa, nascido num lugar esquecido do mapa, pertinho de Pinheiro no Maranhão e que antes de chegar por lá, já tinha se aventurado pelo projeto Jari. Do Pará foi trabalhar como mergulhador e operador de draga nos garimpos de Roraima e da Venezuela. Expulso pela guarda nacional venezuelana, chegou em Paramaribo e surfou na alta do preço do ouro pós 11 de setembro. O Bin Laden nos ajudou…Antes de entrar na floresta, abriu um salão e trabalhou como barbeiro. Pra faturar um pouco mais, começou a vender quentinhas no salão. Deu problema, a licença não valia pras duas atividades. Foi preso. A fala mansa ajudou. Solto, Zé Antonio foi virando um interlocutor entre as autoridades locais e a comunidade brasileira. Não demorou pra ele virar também um interlocutor entre a Embaixada do Brasil e os brasileiros. Em 2013, 40 mil deles estavam garimpando no Suriname, onde a atividade é legalizada, desde que o garimpeiro tenha um registro. A embaixada costumava fazer mutirões nas currutelas, para que todos pudessem colocar os documentos em dia. Não é uma tarefa fácil num lugar onde uma boa parte das pessoas querem enterrar o passado. Ou ser esquecida.


na garupa: zé antonio
Zé Antonio nos levou pra currutela do Macu, que ficava dentro de uma área quilombola, onde os brasileiros podiam garimpar, desde que deixasem uma parte para a comunidade. Num powerpoint dadalanhol o esquema seria assim:
>terra quilombola >garimpo brasileiro e quilombola (em currutelas separadas) > lojinhas, bebidas e traquitanas: chineses > policiais: indianos, javaneses > freje e kengo kengo: ninguém junto e mixturado

Esta turma se comunica numa língua que já tem dicionário e tese: o taki-taki. No fim do dia, o freje é na mesma base do restaurante, cada taki no seu quadrado. Filmamos o dono do mercadinho chinês, emocionado e levemente pinguço na porta de casa, cantando junto com a tv ligada, uma canção chinesa dos anos 70, repleta de chacretes chinesas em leve rebolation. A cena fecha o episódio.




Estes recuerdos de Paramaribo e do garimpo não são aleatórios. Semana passada recebi a notícia de que Luiz Barbudo, liderança garimpeira em Itaituba foi assassinado. O vídeo com a cena do crime está na internet. Ainda não se sabe o motivo, que pode ter sido por susto, ouro ou vício e Barbudo era um fanfarrão. Em 2017, ele fez o mesmo que Zé Antonio fez para minha equipe no Suriname: nos colocou dentro de alguns garimpos no entorno da Transamazônica. E antes que alguém me pergunte, onde está o discurso contra o garimpo? Respondo: Eu sei, garimpos poluem, desmatam, destroem, geram conflitos, causam doenças, etc. Mas isto todo mundo sabe e a Eliane Brum tem uma equipe muito mais preparada do que eu pra falar sobre o lance. A única pergunta que eu faço é: qual alternativa será dada aos quase 500 mil garimpeiros que estão espalhados pelo país? Este tema vai ficar voltando por aqui, em breve, mais Suriname, mais Parazão e, tomara, um pouco de ouro no bolso.

procurando simenon no carrefour:
Anderson França foi o primeiro a prever o fim da jogada: nem por uma baguete de ouro o Carrefour ia deixar de comprar carne do agro brasileiro, orgulho nacional, je suis tudo pão de açúcar, zaffari e assaí….Oxxo se o governo Lulão das Massas para mim e para ela, tem que ser só biscoitos Isabela e a imprensa e o agro tivessem a mesma rapidez e presteza pra cobrar ou boicotar a rede quando eles resolvem matar negros dentro do supermercado. Ãnfãn: tudo na mesma. Eles vão seguir no enchanté, merciboucuallraite, e nós vamos seguir no fofa toba, kengo kengo. Eu não vou no carrefour porque ando sem dinheiro pra comprar carne, de qualquer cor e de qualquer lugar. E porque lá não vende nem póquetibuk do Simenon. E Simenon é uma daquelas coisas que fazem a França valer a pena. Leiam o que o Cony escreveu sobre ele:
Quando recomendaram a Patrícia Highsmith a leitura de um dos livros de Georges Simenon, ela quis saber de quem se tratava. Recebeu a informação: “”É um escritor nascido na Bélgica, de expressão francesa, mora na Suíça e já escreveu mais de cem romances”. A autora de “”Pacto Sinistro” (filmado por Hitchcock) e de “”O Sol por Testemunha” (filmado por René Clement) recusou o conselho. E explicou: “”Quem escreve tanto não pode ser bom”. Mais tarde, ela mudaria de opinião. Simenon escreveu muito e é bom. Paradoxalmente, não fosse a sua popularidade internacional, que quase o coloca na prateleira dos autores comerciais, ele até poderia ser considerado um escritor para escritores. T.S. Eliot e Henry Miller eram seus leitores e o admiravam literariamente. De André Gide mereceu um elogio exagerado: “”Ele é o único romancista deste século que merece ser lido”.

o museu:
Um crítico rabugento assume o comando de um importante museu de arte moderna na Espanha. Como diretor, ele vai ter que lidar com orçamentos baixos, funcionários descontentes, politicagens ministeriais, disputas entre artistas e curadores, além de uma head-hunter golpista, uma performática que puxa os cabelos dos visitantes, um pintor de natureza-morta com pistolão, jovens 30 centavos que não aceitam lesmas expostas como obra de arte (uma violência!) e mais uma penca de tipos em situações bizarras. O diretor odeia coachs, empresas de consultoria, lacradores de rede e testes psicológicos. O que você vê aqui? Mostram a ele uma cartela com um hamburguer desenhado . Um hamburguer. Não, o que você vê aqui? Um hamburguer com queijo e presunto. Não. Como não? Às vezes um cigarro é só um cigarro. Como não simpatizar com ele? Bueno, logo que o MAC de Curitiba foi inaugurado, vi uma exposição de naturezas mortas, pintadas por senhorinhas do Batel e Santa Felicidade…Acho que o diretor teria mandado tirar.

Pra completar, a parada tem participação de Angela Molina, musa de Esse Obscuro Objeto do Desejo, e as grandes musas, são para sempre.

É fato que muita coisa na série tá estereotipada (o episódio com o coletivo africano é constrangedor), tá certo que muitos temas são abordados de forma rasteira, pero: 1-é série, é ficção e é pra tv-streaming. 2-não tem dois.
apertem os cintos, jim abrahams subiu:
Não tem muito tempo eu coloquei aqui uma cena de Top Secret. Era uma lista top five do meu quero ser quinta-série até morrer. Jim Abrahams , dirigiu alguns dos meus filmes quinta-série favoritos : apertem os cintos, o piloto sumiu, corra que a polícia vem aí, top gang, top secret. Pessoas que não saem da quinta-série sempre deixam o mundo mais bacana.
chico cunha tá em são paulo:
na galeria eduardo fernandes

É isto moçada. Semana que vem começa a retrospectiva 2024, com o melhor e o pior do que rolou por aqui e nas adjacências! Na corda bamba segue balançando e contando com o apoio das mentes não obtusas: assine nos botões vermelhos aqui do blog ou apoie com qualquer valor no pix fabpmaciel@gmail.com
a corda agradece a chegada de lennadallabona, muito obrigado!
coloque na parede da sua casa ou do seu elegante e magnífico escritório:
Coloque um dos incríveis desenhos/colagens dos Seres Imaginários do antonio, do vicente e do fabiano, técnica mista, super A3 (47,7 X 32,7 cm) papel couche 250g R$ 120,00 frete incluído para qualquer lugar do brasil CONFIRA TODOS NOS DESTAQUES FAVa no meu instagram @fabpmaciel

links, links e mais links:
série que dirigi em 2013: todos os brasileiros do mundo. a primeira parte, conta a história de alguns agricultores brasileiros no paraguai. a segunda, de garimpeiros no suriname:
moça bonita não fala taki-taki: a tese.
o museu:
esse obscuro objeto do desejo, algumas cenas em um link confuso:
top gang dublado.
Agreste, filme do Sergio Roizenblit fotografado pelo chapa Humberto Bassanelli está no cinema. vejam o trailer:
na playlist # 101:
Ilustres botafoguenses na playlist da corda: marcos valle, marina lima, zeca pagodinho, beth carvalho e os helenos. e também: david bowie, neil young, big audio dynamite e duas do novo álbum de negro leo. ouçam!


torcida do botafogo esta noite o botafogo vai ganhar # neil young cinnamon girl # david bowie somebody up there likes me # the isley brothers spill the wine # reiner brasil profundo # negro leo tcha tchum na xana e online agora # geraldo azevedo um dia # catarina dee jah kay fora e sarará # otis redding ole man trouble # big audio dynamite a party # sonny okossun highlife # michelle abu classificados # mc5 high school # gracinha cuénteme # mavis staples your are not alone # easy star all-stars lady stardust # humberto effe a vontade e o medo # luiz bonfá you are not to be # quartabê e juçara marçal maracatu nação do amor # pery ribeiro canto negro # orieta chrem oye # péricles cavalcanti se for um samba # russo passapusso e karina buhr dora # monica zetterlund the baby # pedro pastoriz dolores # alex e.chávez guadalupe # chuck berry fish and chips # jim capaldi the low spark of high heeled boys # gene washington & the ironsides next to you # father john misty she cleans up # marley bleu good mornin’ # tanika charles endless chain # little feat spanish moon # sam phillips i need love # francis bebey fleur tropicale # sarah vaughan dreamer # scotch band watsotasama # tatá aeroplano discrepância # marc bolan & t.rex venus loon # baden powell round midnight # ronald snijders kaseko attack # remiseria temperley butaca # elis regina meio de campo # marcos valle bar inglês # marina lima muito # zeca pagodinho e mais um monte de gente camarão que dorme a onda leva # beth carvalho botafogo campeão # os helenos sou botafogo # torcida do botafogo fogo!

e a playlist # 101:

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