na corda bamba espera que no espaço curvo nasça um crisantempo

Nas últimas 3 quadras da rua Luis Gois, perto de onde moro, existem 2 farmácias, 1 boteco, 1 borracharia, 1 igreja evangélica, 2 padarias, 1 oficina mecânica, 1 lotérica, 1 depachante, 1 pequena papelaria, 1 ateliê de cerâmica, 1 loja de bolos, 1 escritório de contabilidade, 1 ponto de táxi, 1 loja de lâmpadas e artigos elétricos, 1 academia de ginástica, 1 pizzaria, 2 restaurantes, 1 quitanda, 1 lavanderia, 1 pet shop, 1 hortifruti e 9 salões de beleza-barbearia-manicure. Como interpretar os números deste pequeno censo de atividades econômicas do meu entorno? O boteco da esquina é frequentado por moradores do bairro e faz bastante barulho. A igreja evangélica, por sorte, é discreta e os fiéis parecem não ser da área. O culto é silencioso e todo mundo chega de carro no domingo. Todos na estica, a mulherada de salto alto e os decotes no limite entre o pudico e o psirico. Uma das farmácias é totalmente do bairro, o dono conhece todo mundo. A outra é de rede e reina a impessoalidade. Uma padaria atende os taxistas e a outra os paladares mais metidos. A lotérica atende todo mundo, a quitanda atende quase ninguém, a papelaria quebra o galho de muita gente e um dos restaurantes salva o pessoal da firma. O hortifruti serve pro bairro todo e pra quem tá passando. A chocolateria chique fechou assim como a banca de jornal e a loja de produtos orientais. Pizzaria é o ululante. O enigma são os 9 salões. 5 deles, exclusivamente femininos e até aí nenhuma novidade. O surpreendente são os 4 salões masculinos. Em 3 quadras! Um deles, até bem pouco tempo atrás se chamava Enzo Barber Shop. Agora o Enzo saiu da placa e entrou um tattoo & barber no lugar. O outro salão vende charutos, cerveja alemã e de lá saem diariamente muita gente com aquele leiaute estilo cara de Gusttavvo com dois tês e dois vês nas guampas. Eu tenho certeza absoluta, nada me tira da minha cabeça recém raspada (pelo helton, um mineiro velho guarda, de poucas palavras e as poucas são sobre futebol) que o corte de cabelo é um dos principais responsáveis pelo atual estado xexelento das coisas. Quanto mais patéticos os cortes ficam, mais o mundo se desintegra. Pense num porongo replicante em zonas de conforto e olhe o seu penteado. Pense num coach e mire seu “look”. Tá certo que do outro lado do front, rola uma democracia de cores e cortes, jamais vista em outras eras. O problema é que este lado do front não está no comando. Hoje quem manda na parada, de Kiev à Washington, de Sorocaba à Praga, são todos aqueles bonecos com cara de Gusttavvo. Acho que o lance é mandar um Lima pra eles! Na Corda Bamba, edição # 139, com a espetacular playlist n° 110 está na rede desejando que todos estes gelificados sejam devorados por milhares de piolhos, pulgas, carrapatos e outros insetos chatos e coceirentos. Saravá!

cortes de cabelo circa 1900. fonte kristin holt, que parece ser uma americana obcecada pela era vitoriana

emma emma no colchão duro cada um com seus edema e que se foda qualquer poema

O Tucanistão acabou. O reino encantado onde o príncipe dos sociólogos brilhou foi pro brejo. Tudo que a social-democracia de bico longo tentava equilibrar -privatiza de um lado, tira direitos de outro, um Pinheirinho aqui, uma Sala São Paulo acolá – desequilibrou de vez e não sobrou nenhuma louça herdada do baronato pra contar história. O príncipe errou feio na estratégia e sifudeu no sanduíche de mortadela do mercadão. Achou que esquecer o S da sigla não ia fazer diferença. Confiou numa aliança com as cavalgaduras ruminantes do Centrão. Apoiou o golpismo do mimadinho das alterosas e depois apostou no cavalo égua da Faria Lima. Sifudeu de novo. Como bom centrinho do pau oco, foi direitinho e direto pra direita total. E a elite que usava talheres e se orgulhava de uma pretensa civilidade (apesar de se vestir numa loja chamada Daslu) agora vai ter que se contentar com aquela exposição imersiva do Van Gogh no Shopping Vila Olímpia.

do the locomotion

Enquanto isto, ali perto do Morumbis, a hiena que hoje comanda a locomotiva do país, tá pouco se fudendo pra qualquer coisa que cheire à civilização. USP? Privatiza logo este antro de imprestáveis. FAPESP? Pra que serve esta porra? Desde quando a gente faz ciência? TV Cultura? Não serve nem pra propaganda, melhor entregar pro pastor. E esta bostinha ali na Paulista que a gente não pode nem demolir? Casa das Rosas. Ainda com este nome afrescalhado. Deve ser coisa de intelectual viado. Poesia concreta. Que porra é esta? Pode recolher. Manda pra um guarda-volume, de preferência bem longe. Isto.. pode ser em Alphaville, lá é um bom lugar pra enterrar qualquer projeto civilizatório. Lá não tem nem livraria, e se tiver, só tem aquelas que vendem biografia de ciou de empresa americana. Olha só isto aqui: era briluz as lesmolisas touvas roldavam e relviam os gramilvos. Quem consegue entender um troço deste? Noigrandes é o caralho. Quasar é a ponta do meu pau nestes arrombados de esquerda. Caguei se o Caetano e Folha gostam do cara. O Caetano agora canta louvor e a Folha tá comenda na minha vara. Aliás, Renata, pega lá o martelo do leilão que hoje eu acordei com vontade de quebrar umas mesas e de fechar umas escolas.

Eu acho que lá no alto, em alguma galáxia distante, o Haroldo de Campos tá mandando um sinal luminoso, um verso e um abraço pra quem acredita que sem poesia, não se chega em lugar nenhum. Nem em Jaçanã.

o que é isto, companheiro? perguntou um cisne pro seu amigo, no laguinho do itamaraty.

Mas nem tudo foi destruído na cidade. Esta semana fui no Centro Cultural São Paulo e um livro apareceu na minha frente gritando: me leva, me leva. O Punho e a Renda, de Edgard Telles Ribeiro. Um romance sobre a participação de diplomatas do Itamaraty na repressão política e no apoio aos golpes militares nos países vizinhos. Escrito com uma baita elegância por alguém que entendia do riscado, pois foi diplomata no período. É de tirar o fôlego. E é raro, porque a maior parte dos livros sobre o tema foram escritos pelas vítimas, ou por opositores do regime. Edgard Telles Ribeiro não era um apoiador da ditadura, mas escreveu sob o ponto de vista de quem está, mesmo que constrangido, servindo ao estado. Talvez por isto, tenha levado 40 anos para lançá-lo. Triste mesmo, é constatar que no Brasil, todo filho da puta sempre se salva no final.

o troféu VTNC da semana vai para

O escafandrista véio véio, o prefeito de Porto Alegre, que lavou a mão num saco privatizado, tapou o nariz e fingiu que não viu seus comparsas na câmara dos vereadores aprovarem a lei da mordaça. Vou dar o nome de alguns dos bonecos momirratos: Comandante Nádia, Coronel Ustra (precisa mais?), Fernanda Barth (que se diz representante das pessoas de bem) e mais uma dezena de chinelões obtusos. Todos merecem dicumforça, o troféu VTNC da semana.

em breve mesmo!

a foto da capa desta edição é minha e eu fiz no clube vila mariana. quem quiser assinar na corda bamba, é só conferir os botões vermelhos lá de baixo. ou apoiar com qualquer valor na chave pix fabpmaciel@gmail.com

coloque uma das espetaculares colagens dos seres imaginários do antonio, do vicente e do fabiano na sua parede preferida. custa só 120 pilas com frete incluído para qualquer lugar do país. confira todas elas nos stories de @fabpmaciel

bob bisponja

na playlist # 110:

cid campos e haroldo de campos abrem e fecham a edição de hoje. e mais: tom waits for no man # duffy power # abelardo carbono & quantic # gang of four # eurythmics # the allergies # baiana system # natália lebeis # joka groove # rael, mano brown e dom filó # sly & the family stone # bob marley and the wailers # gereba e grupo bendegó # jupiter & okwess # sam & dave # joe jackson # the black keys # marcelo lobato # milton nascimento # tulipa ruiz e joão donato # teca & ricardo # emma-jean thackray # angelo badalamenti # sylvia telles # salma e mac # marianne faithfull & p.j. harvey # pretenders # beck # jon batiste # lennie dale # grand kalle et l’african jazz # african jazz # white noise # sam the kid # zé ramalho # maden neves # keith jarrett # the rolling stones # mononeon & mavis staples # bo didley # saigon soul revival # liya ag ablil # massive attack # blondie # buzzcocks # marianne faithfull & nick cave # vital farias # joãozinho da gomeia # madan neves e haroldo de campos

musa

links! links! e mais links!

no espaço curvo nasce um crisantempo na tv

quando veremos isto por aqui???

marianne & nick

e a playlist #110!