Antonio dez anos. Nasceu dois dias antes do aniversário do meu pai, ele dia 30 de março, meu pai no primeiro de abril. O avô do Antonio se foi poucos meses depois que ele chegou, portanto, dez da chegada do Antonio e quase dez da partida do Francisco. Enquanto escrevo, o julgamento do Jair tá rolando na tv. Hoje à noite tem Brasil x Argentina e Antonio já avisou que quer assistir comigo, com o irmão e, se a mãe não dormir, quer ela no sofá da sala também. Antonio ainda não tava na barriga da Miriam no 7×1 Alemanha. Mas já tava chutando forte quando Dilma foi reeleita. Lembro de ligar pro meu pai e comemorar em voz alta pra todos os vizinhos ouvirem: meu filho vai nascer sem ter um sapatênis tucano bunda mole escroto safado pilantra na presidência. Apressado, Antonio tentou chegar antes da hora e aquele ano novo foi no hospital. Algumas semanas mais tarde, fui pra Porto Alegre, agora era o meu pai hospitalizado. O câncer parecia estar domado e só hoje consigo perceber o esforço filho da puta que ele fez para demonstrar otimismo e não se deixar abater naquele momento. Só hoje eu consigo entender que naqueles últimos dias que estive com meu pai, eu estava totalmente perturbado, inquieto, aflito e inconformado, querendo pular pela varanda do hospital pra não ter que admitir que a chance dele sobreviver era mínima. Tão mínima quanto a do governo Dilma. Trabalhista histórico, eleitor do Jango e leitor de Celso Furtado e Josué de Castro, meu pai tinha ódio dos militares e brincava, o golpe mesmo foi no dia primeiro de abril. Mas por estes mistérios da vida, casou com a minha mãe, que sempre foi anti-brizolista, e depois com uma mulher que era anti-petista de carteirinha, daquelas que ainda em 2016, foram à todas as passeatas convocadas, primeiro pelo aecinho branco de neve e depois pela gadaiada agro coturneira da véia do relho. Mas ele lidava bem com isto, diferente de mim, que tenho nojo, asco e procuro distância de qualquer respingo bozoterraplanista. De noite em casa, prevendo o pior, fui tomar banho. Quando voltei já tava 1×0 Argentina. No segundo gol, Antonio dormiu. Acordou com o meu grito no gol do Brasil, dormiu novamente e nem viu o terceiro, muito menos o quarto. Como diz o meu amigo Rafael, 3×1 é futebol, 7×1 é treta. No intervalo, pra evitar traumas, toquei ele e o irmão pra cama. Hoje de manhã o Supremo condenou o moddafucka e seus bluecaps arrombados. Nas redes meus amigos comemoram. Lá do alto, seu Francisco deve estar comemorando. Vou pro threads mandar todos os adoradores de pneu ralarem nas ostras. No Boteco Favorita, onde estou agora, o créu na turma do viagra grátis não parece causar diferença alguma para as cozinheiras, auxiliares, balconistas, garçons e garçonetes. Na tv, Neto convoca o povo pra assumir o comando da CBF. Por um tempo tive a ilusão de que a revolução poderia acontecer via futebol. Santa ingenuidade. Vejo uma foto do coisa ruim de camisa amarela, ao lado do cara de cratera que governa São Paulo, de camisa azul. Penso que vai ser dureza. Mas a condenação da quadrilha é um começo. Também tem uma foto do Lula no Japão, e da Dilma, de vermelho, assumindo seu segundo mandato no Banco dos Brics. Um banco que em certa medida, foi desejado por Celso Furtado. Nem tudo está perdido. Quanto a seleção, tomara que Antonio não precise esperar, como eu precisei, 24 anos pra ver o Brasil ser campeão do mundo (a de 70 não conta, eu tinha 5 anos) Tomara que ele não precise, como o avô dele precisou, esperar 30 anos pra votar novamente pra presidente. O futuro segue incerto pra caralho, a conjuntura, a geopolítica, o calor, a chuva, o sol, o galvão, a assistência no lugar do passe, o véio da havan que aparece vestido de fada na tv, o sertanejo universitário, a dengue, o ibirapuera nubank, o escambau, tudo é esquisito. Presente estranho, futuro esquisito. No momento, INSERIDO NO CONTEXO da cretinice, estamos em pé de igualdade com muitos países (considerando o trumpismo e o ressurgimento dicumforça da direita na Alemanha, França, Itália, dos massacres de Israel, etc). INSERIDO NO CONTEXTO do futebol, tá na hora da gente tomar vergonha na cara e admitir que fomos rebaixados para o segundo escalão. Não temos um time. Temos um bando desnorteado, uma Avenida Brasil aberta, esburacada e escalavrada piscando e dizendo, entrem, sintam-se à vontade, a casa é de vocês. Um mate, água gelada, um cafezinho, um cafuné? Uma selecinha totalmente na corda bamba. Com a diferença que o saldo bancário deles é chuchu beleza, tomate maravilha. Então macacada, é pau no cu da CBF! Segura a rola Ednaldo! Na Corda Bamba tá na rede, mais cedo e jogando de letra, driblando os abacaxis e levando calça arriada e bola nas costas ao mesmo tempo. Assinem o blog mais destemperado do bananal nos botões lá embaixo ou colaborem com qualquer valor na chave pix fabpmaciel@gmail.com A capa desta edição é uma foto de Garrincha com Pelé, nossos astronautas. Saravá!


adolescência
não tive estômago pra encarar adolescência. vi uns trechos (a miriam viu) achei os atores foda e os planos sequências ótimos (não vou entrar nesta discussão). mas não dou conta. durmo vendo leslie nielsen ou uma série colombiana fajuta da netflix chamada medusa (ruim como o diabo), mas com uma protagonista linda.

irrealpolitik não existe sem bate boca e provocação
Porto Alegre 235 anos e com um prefeito escafandrista afundando com ela. # Rita Zanon informa: Depois de vender (dar) a CEEE por 100 mil(hões) de reais, o governador quer comprar um jatinho por 150 milhões de reais com dinheiro destinado aos prejuízos decorrentes das enchentes # Palestina! Palestina! Palestina! # Eu realmente ainda me impressiono com o nível de chinelagem do Estadão: tem uma mocoronga modelito turbinada da firma, que assina coluna com a alcunha de Duquese de Tax. Deve ganhar a vida ensinando empresas a sonegar impostos e claro que ela acha uma vergonha isentar a maioria absoluta que fatura até 5 pilas mês. Tem um outro, meu xará, so que Lana que brinca de sapatenismo de balança desregulada. Muda pra lama Fabiano Lana! # Antônio Nóbrega sensacional em show no Sesc Pinheiros: Sem Anistia!

quando o brasil era moderno
quando o brasil era moderno, meu novo filme. estreia no festival é tudo verdade. semana que vem, falo mais sobre ele por aqui. confiram o trailer e as datas:
Rio de Janeiro:
– 05/04 – Net Botafogo – 20:30
– 06/04 – Net Rio – 21h
São Paulo:
– 07/04 – Cinesesc – 20:30
– 08/04 – Cinemateca – 17:00
pendure na parede de casa!
coloque uma das incríveis colagens dos seres imaginários do antonio, do vicente e do fabiano na sua casa ou no seu escritório e sua vida vai finalmente sair do lugar. E as paredes vão resistir. Por apenas 120 pilas (frete incluído para qualquer lugar do país) você garante um terremoto de boas sensaçãos. Confira todas elas nos stories de @fabpmaciel

na playlist #116

a # 116 começa com o take 8 de rocky raccoon, esta belezura do álbum branco dos beatles, uma belezura que eu tocava pro antonio dormir quando ele ainda era um guri de colo. tá certo que a letra conta a história de um cowboy cornudo querendo vingar sua honra, mas a melodia é cândida e beatles serve pra tudo: pra ninar o filho, pra namorar a mãe do filho, pra pensar e pra esquecer da vida # pirombeira pra lembrar do seu francisco que tocava gaita # black sabbath pra tirar a leseira # black to black, música nova dos the black keys e disco novo e alucinado de dos corneteiros da polca, labrassbanda. # disco novo de arnaldo antunes, que muito me fez pensar nesta semana. começo com uma dobradinha dele com david byrne, corpo-body, e mr.byrne cantando body,body,body,body,body me lembra genival lacerda, bole,bole,bole,bole, me lembra de musiquinha de punheteiro, mariazinha do bole bole, peitinho duro, buceta mole, o galo canta, meu pau levanta, a vaca berra, meu pau enterra, subi na pia, quebrei a pica, fui na farmácia, passei arnica, cheguei em casa, chamei maroca, levanta saia, lá vai piroca…e antes que eu seja apedrejado, a barca segue com os yoruba singers numa faixa com um nome muito além da imaginação, unconprehensideinsilble radio-matick woman! # musicão com arranjo super bacanudo diambas e dendê, com alvaro lancellotti e na sequência, joão donato tocando o encontro do moicano com o grande espírito. # conhece a marie “queenie” lyons? se não conhece, aproveita a chance, ela era, é, foi, sempre foi, da pesada. # flor do futuro com zé nigro, uma bagunça com silvia machete, uma melancolia com yo la tengo (a banda do mês) # erasmo carlos, o cara da vida toda em dose dupla olhando o sorriso dela. e como o erasmo já sabia de tudo e muita gente achava que ele não sabia nada # uma versão sem vocais de back in the urss, ou seja sem bequiiniuésesesesare! # gnawa diffusion no deserto, encamelado, numa caravana para a distopia # richard neves e o rei da mata # airto moreira mostra como se faz groove de verdade e despues uma turma que sampleou tanta coisa e tem tanto nome na autoria que parece até samba enredo de escola. conferiram no spotify que é classe. mas tô com preguiça de escrever e vou mandar só o primeiro nome: the black on white affair e pra seguir no clima, the sweet inspirations.

# anelis assumpção e seu novo dub inconcluso. # david axelrod, aumente o volume! # durand jones & the indications + aaron frazer sempre um balaquinho de primeira # e o mestre dos magos do balaquinho: mr. barry white # aline morales é uma brasileira que sabe que nos dias de hoje, fazer bossa no canadá é mais legal do que na trumpelândia # fernanda abreu porque deu saudade # arnaldo antunes e ana frango elétrico, ana é uma das coisas mais bacanas que surgiram por aqui nos últimos tempos. E vamos pra um trecho da letra:
não seja malcriado
com quem é malcriado com você
não seja intransigente
com quem é intransigente com você
não seja mal-humorado
com quem é mal-humorado
não fique só de lado
com quem não fica de frente pra você
não seja tão opaco
com que não é transparente com você
não seja indiferente
com quem não está ligado em você
se pra melhorar a gente
precisa ter mais cuidado
pra não falar mal de ninguém
não pensar mal de ninguém
pra não ficar mal com ninguém
não querer mal a ninguém
pra ser o amor de alguém
amar alguém também
pra tudo ficar tudo bem
Não sou eu que vou discordar do Arnaldo e da Ana. Mas não falar mal de ninguém, não ficar mal com ninguém só no dia em que eu virar monge budista do sétimo portal iluminado. Como isto nunca vai acontecer… E aí tem outra do Arnaldo com David Byrne:
ou você entra ou você sai/ ou se concentra ou se distrai
ou você sobe ou você cai/ ou observa ou abstrai
não dá para ficar parado aí na porta/ ou você flui ou se retrai
aonde a porta pensa que vai?/ o que a janela está olhando?
por que o teto não cai?/ o que a parede está esperando?
E aí pintou um grilo na cuca, numa música ele pede pra gente relevar tudo, não reagir. Na outra ele pede pra gente não ficar de bobeira parado, e pede até pra parede se mexer e dar um rolé. Ou o lance é zen paradismo ou zen mobilismo. pra isto existe a poesia e os poetas. # e por falar em bole bole: uma homenagem à jacob do bandolim, com um time de bambas, entre eles, o meu chapa henrique cazes # mais bole bole, a mariazinha do bole bole, não a versão chula que eu cantei lá em cima, uma versão realeza do guamá, com allan carvalho e ronaldo silva # mindel perdida nela mesmo # eiko ishibashi e uma faixa da trilha de drive my car # bill wyman, depois dos stones, dirige o carro dele numa relax e devagar. # sinal fechado e uma sequência pra lembrar de que a vida nunca foi moleza, paulinho da viola, joão bosco e chico buarque. desalento # bossa de gringo com jon mark, um bis do yoruba singers, um balancinho com the sure fire soul ensemble e uma disco turca com peki momés. # blues com bonnie raitt, alan vega & alex chilton e charles bradley # black pantera pra tirar vocês da zona do conforto do almoço da firma. # azimuth, bixiga 70, wilks group pra mudar o giro # na reta final: almôndegas, iara rennó e the beatles bip bip bip yeah !

LINKS! LINKS! E MAIS LINKS!
celso furtado: pensamento pro futuro. desde sempre odiado pelos economistas de aluguel.

a cinebiografia de celso furtado, dirigida por josé mariani
Este livro é fantástico: a criação da juventude, de jon savage. analisa a adolescência na inglaterra, estados unidos e alemanha, entre a metade do século 19 e o final da segunda guerra. Uma história de violência, delinquência, pobreza e falta de perspectiva, que foi cozinhada por psicólogos, educadores e políticos, num caldo que narra gangues de rua, montanhismo, escotismo, trabalho escravo, o surgimento da juventude nazista e a criação da palavra teen, quando milhares de caras espinhentas viraram consumidores.

não é saudosismo. é o que resta: olhar pro passado:
o bamba Gabriel Priolli, manda avisar que está no ar no spotify o podcast:
Trapaça-A Saga do Jornalismo na Politica.
Estreia hoje, com a reportagem A Guerra dos Collor, que roteirizei em 8 episódios, adaptando o livro de Luís Costa Pinto.
E Junior Braga convoca o povo de São Paulo pra conferir uma parada parazão:

e a playlist # 117

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