na corda bamba 165 em vodka? vodko!

Em 2013 fiz um documentário chamado Galáxias, sobre pessoas pobres que criaram bibliotecas em diversas comunidades do Brasil. O filme foi mal divulgado, mal compreendido e pouco visto. Parte da culpa é minha, já que o projeto era meu e fui o diretor e roteirista. As boas intenções não comoveram críticos e nem curadores de festivais. Também não consegui acessar um público que poderia ter tido algum interesse nele: os bibliotecários e os agentes que trabalham com formação de leitores. Apesar disto, o filme tem personagens extraordinários, como Otávio Jr. que montou uma biblioteca na favela do Alemão, o Evando, que criou uma biblioteca gigante na Penha, Kcal Gomes, que criou outra no Pina em Recife, o Dijaik, professor em Tefé no meio do Amazônia e Luiz Amorim, que montou uma biblioteca dentro de seu açougue em Brasília. Um dos momentos mais emocionantes do filme (e da filmagem) foi acompanhar Marco Túlio, o fundador da Borrachalioteca de Sabará, numa ida ao presídio da cidade, onde ele dava aulas de literatura e língua portuguesa. Naquele dia, Marco Túlio leu para os detentos a crônica “Versões de Mim” de Luis Fernando Veríssimo. Pronto. Já dei um jeito de falar do Verissimo e de puxar a brasa da sardinha pro meu lado, como tantos mortais fazem, seja por homenagem ou por vaidade. E assim como milhares de mortais, me criei lendo as Cobras e as crônicas dele nos jornais, que eu recortava e guardava numa caixa que já resistiu a uma dezena de mudanças e eu nunca tive coragem de jogar fora. Todos falam da sua escrita econômica, do seu poder de síntese. Fato. Mas o que eu mais admirava era a capacidade que ele tinha de usar e abusar do vocabulário da fronteira no Analista de Bagé (freudiano barbaridade, mais ortodoxo que embalagem de cashmere bouquet, tu tem pelego em casa? tá com os carnê em dia? então deixa de frescura e te preocupa com a defesa do guarani de bagé!), sem ter sido criado na campanha; de inventar um personagem absurdamente carioca como Ed Mort, sem nunca ter pisado em Inhaúma e uma Velhinha de Taubaté crédula e inocente, sem jamais, creio eu, ter dado um rolê por lá. Eu sei de cor várias passagens de todos os álbuns do Ed Mort como a história da mulher que contrata o detetive para procurar o marido morto, que desapareceu das sessões espíritas. Uma obra prima, assim como a do marido que perde a aliança trocando o pneu na Av.Brasil e, certo de que a esposa jamais iria acreditar, mente e diz que esqueceu o anel num motel com a amante. O marido foi perdoado. Tem outra crônica de um avô italiano, que nunca se entendeu com o neto, o neto vira adolescente e pra causar num almoço familiar, afirma com todas as letras que comida italiana é tudo igual, só muda o formato do macarrão. O nono jamais perdoou a ofensa. O brasileiro, de modo geral, é falante e barulhento. Verissimo é lacônico. Ser lacônico nunca foi visto como virtude por aqui. Bueno. Um dia eu estava no mesmo avião que o cara. Na saída, na pista, criei coragem e perguntei: Vai sair algum álbum novo do Ed Mort? Nunca mais, ele respondeu e seguiu seu rumo. Mas tive a chance de ir na casa dele, entrevista para a série Clubes do Coração, episódio do Inter, obviamente. Naquela manhã ele falou bastante. Anos mais tarde, eu e meu amigo Jeb Blount adaptamos uma crônica dele e fizemos o curta Pracinha. Jeb comprou os direitos e eu mandei o roteiro adptado para ganhar a benção. Ele respondeu: O roteiro ficou bom. Boa sorte. Melhor impossível. Eu tinha pensado em escrever uma corda política, recheada de análises conjunturais e com farta distribuição de achincalhamentos e ofensas em que merece ser achincalhado. Mas pensando no Verissimo, que sempre votou na esquerda, fiquei sem vontade de gastar fogo em ximango. Verissimo ficará pra sempre. Tarcisio, Bozo, jornalistas reaças e economistas de mercado, fascistas e outros obtusos de plantão, por mais que se multipliquem como coelhos, serão sempre esquecidos. Ou só serão lembrados pelas merdas que fizeram. Na Corda Bamba # 165 tá na rede, com uma playlist cheia de sucessos pra ajudar a esquecer a chinelagem reinante. A corda agradece a chegada de Andrea Freire e lembra que quem quiser assinar, é só conferir os botões vermelhos lá de baixo. E pra quem quiser apoiar com qualquer valor , é só enviar pra chave pix fabpmaciel@gmail.com Saravá!

ps 1: ed mort conhece a professora de balé russa, olga pressentspliskaya (acho que era isto). ele pergunta: posso te chamar de olga? sim, ela responde. ufa… ela oferece vodka pra mort. vodka? vodko, responde ele. ed mort!

ps 2: em ed mort com a mão no milhão ele janta com um empresário golpista tão reacionário que não bebia nenhum vinho português safra pós salazar.

ps 3: nesta mesma história, ele é apresentado à um psiquiatra que reclama com seu paciente: por que você está me contando todas estas barbaridades!

zagueiro tem que jogar mal e ter raiva de quem sabe jogar.
o primeiro que li foi feito pelo quarteto fantástico

as frases da semana e do ano passado também:

na arena jovem eu nasci, na arena velha vou morrer ciro gomes, imperador da pérsia, mucuripe sur mer e do cariri.

o estado e o pcc sou eu tarcísio, governador do antigo tucanistão

“faz de conta que ele não disse isto!” luiz entrando numa frias, dono de jornal a serviço da faria lima e pinóquio

“aha, uhu, a ultrafarma é nossa! “ tarcísio, governador do atual pececesão

“faz de conta que ele também não disse isto!” luiz calafrias, dono de jornal, de maquinhinha e brodinho da faria lima

“aha uhu, a faria lima é nossa!” cangerana miliciano de freitas, capitão da polícia militar do tarcisionistão

“pô aí, vamo mandá o lima na faria lima” beto de louco não tem nada, empresário, investidor e gente de bem

“o brasil não pode prescindir dos bolsonaristas moderados da faria lima, do pcc, e nem de personalidades impolutas como o governador bandeirante. sem eles não haverá nem paz e nem crescimento” joel pinheirinho da fonfon seca, economista da fiesp e chupador de fios de bigode e de saco do merval pereira.

“pesquisa genial indica que tarcisio é animal e vai assassinar o camarão” felipe heleno nunes, proprietário do instituto de pesquisas compradas quaest quo vadis , pecunia in manibus

“adote uma fintech da faria lima antes que um traficante a adote” ronaldo cocaiado, governador de uma corcova só e de muitas cabeças de gado.

“tarcísio tem a oportunidade de ressignificar a política brasileira” luciano zelensky, empresário, comediante

“bolsonaro tem a oportunidade de ressignificar a política brasileira”, luciano zelensky, garoto propaganda de havaiana de couro.

“pcc gugu dada meu pix”: chupetinha, depu e tado mineirim e bolsonarin

“precisamos evangelizar os indígenas” papa leão jimmy swaggart XIV

“o psdb acabou mais por suas virtudes do que pelos defeitos” elio gasparzinho gaspari, o fantasminha camarada do fhc e da polarização

“ouvam o que eu digo: eu sou beliscoso, mentiroso, assombroso e asqueroso. mas não rasgo dinheiro” zema yonara, governador das minas e dos cofres geraes.

“negros de mierda” milei, filho da puta e presidente da argentina

“tô todo cagado” bozo, filho da puta e ex-presidente do brasil.

“sieg heil”, julia zaza nata de olho na barata dela, depu tada e miss oktoberfest 1939

“sieg heil” bibi netanyahu, primeiro ministro, sócio de Peixão no complexo de Israel e partner de julia zaza nata no oktoberfest de 1939.

“sieg heil” donald tramp, presidente do que restou dos estados unidos da américa

“sieg heil” ursula wan der léia, presidente do que restou da comissão europeia

LINKS! LINKS! E MAIS LINKS!

a crônica versões e um livro do veríssimo em pdf:

marco túlio lê versões em galáxias:

galáxias o filme completo:

versões, com marco nanini:

pracinha: o curta que fiz com meu amigo jeb blount, adaptando uma crônica do verissimo.

a crônica que originou pracinha:

Rio, 29 de Setembro de 2002

Luis Fernando Verissimo

Pracinha

Você não me conhece. Mas eu tenho, por assim dizer, acompanhado a sua vida. Desde pequeno.

— Ah, sim?

— Nós brincávamos juntos. Na pracinha. Você não se lembra. Não pode se lembrar.

— Acho que…

— Não, não. Nem tente. Faz muitos anos. Eu me lembro porque fiquei muito impressionado quando a minha mãe me disse que você ia morrer.

— O quê?

— Minha mãe me disse que você era muito doente. Que não era para bater em você, nem fazer você correr muito. Eu tinha vontade de bater em você. Mas nunca bati.

— Eu era muito doente?!

— Foi o que a minha mãe me disse. Que você não ia durar muito. Que era para eu cuidar de você. Por isso eu deixava você ganhar tudo. Fiquei muito impressionado.

— Mas…

— Eu não imaginava que uma criança do seu tamanho, do nosso tamanho, pudesse morrer assim. Sem ser atropelado, sem ficar de cama. Estar brincando numa pracinha e ao mesmo tempo estar morrendo. Aquilo me marcou. Acho que passei a infância esperando você morrer. A vida toda.

— E eu não morri.

— Não morreu. Vocês se mudaram do bairro. Nunca mais brincamos na pracinha. Mas eu continuei acompanhando a sua vida. Uma vez cheguei a ir na sua casa. Minha mãe foi entregar uma torta. Era o seu aniversário. Quinze anos. Eu disse “Oi” mas você nem me olhou.

— Você disse que tinha vontade de bater em mim? Na pracinha…

— Tinha. Porque você era insuportável. Você era intragável. Mas eu não podia bater. Em vez de bater em você, protegia você dos outros, que também queriam bater em você. Porque você era muito fraco. Porque você ia morrer.

— Olha, eu…

— Você não sabe como aquilo me marcou. Pela vida toda. Fiquei amargo, fatalista. Imagina: um fatalista de dez anos. Achava que nada na vida valia a pena. Que sentido podia ter a vida, num mundo em que crianças morriam assim?

— E eu nem sabia que estava doente!

— Vi o seu nome na lista dos aprovados no vestibular, no jornal. A sua foto se formando. As notícias das suas vitórias na vela. A participação do seu casamento. As fotos do seu casamento na coluna social. O seu lançamento como candidato a vereador. Até votei em você. Não sei por quê, achava que ainda tinha que proteger você porque você ia morrer criança, embora já fosse adulto. Mas esperei, esperei, e nunca vi o convite para o seu enterro. Vi o da sua mãe, mas não o seu. Procurava a notícia da sua morte e via a notícia da sua candidatura a deputado. Procurava o convite para o seu enterro e via a notícia da sua escolha como secretário de estado. Uma vez, nem tive que abrir o jornal. Estava lá, na capa, sua cara e a notícia dos milhões desviados na secretaria. Mas nunca a notícia da sua morte.

— Desculpe, eu…

— Não, não. Tudo bem. Não é culpa sua.

— Se eu puder fazer alguma coisa por você… Só não posso morrer, claro.

— Claro. Ainda mais agora que vai para deputado federal. Aliás, com o meu voto.

— Obrigado.

— Oquei.

— O que é que você faz?

— Eu? Nada. Me viro. Tenho a pensão da minha mãe e vivo encostado. Invalidez.

— Invalidez?

— Problema psiquiátrico. Trauma de infância. E outras coisas. Acho que não duro muito.

— Mas você é moço. Tem a minha idade!

— É, mas…

— Escuta.

— O quê?

— Você quer me bater? Pode bater.

— O que é isso?

— Não. É o mínimo que eu posso fazer por você. Faz de conta que a gente está de volta na pracinha. Me bate. Vamos. Eu sou forte. Posso agüentar.

— Olha… Acho que eu não tenho mais força.

o trailer de verissimo, um documentário da pesada:

tárik de souza escreveu sobre a corda # 164:

Corda gaúcha até dizer tchê-ga! Pequeno detalhe: O exemplar do Coojornal escolhido traz uma entrevista com o carioca Chico Buarque, realizada na minha humilde residência num minúsculo quarto & sala no Leblon. Só eu Chico e o Bicudo! Isso é história, amigo. abração Tárik

na playlist # 138:

naturalmente mbulu

a playlist abre e fecha com duas cantoras sensacionais: a sul-africana letta mbulu e a carioca ilessi, que acaba de lançar um novo compacto nas redes. a barca avança com miles davis, nara leão, chico buarque, bobbt timmons, laura anglade, kari kimmel, prince buster, hyldon, thundercat, trevor dandy, joão bernardo e duda brack, country joe mcdonald, native harrow, neil young, quinteto violado, ricardo bacelar e flora purim, snarky puppy,papete, mavis staples, oscar petersomn, haroldo bontempo, eric clapton & steve windood, supergrass, iraina mancini, the persuasions, annette peacock, thundercat & tame impala, marvin franklin, the isley brothers, air, hugh masekela, sister nancy, the untouchable all-girl band,edu lobo e tom jobim, joão gilberto, caetano veloso, gilberto gil e maria bethânia, paulinho da viola, mei semones, horace silver, lucina, toumani diabaté, edgard scandurra e arnaldo antunes, antonio adolfo, astrud gilberto, bel medula, carol cavesso e otis trio, nana caymmi!

estranhamente mei semones

e a playlist # 138!