Domingo passado bateu aquele velho bode preto mal-estar coisa ruim dos infernos que é ver as hordas amarelejas ruminando na Av.Paulista. Não importa se eram 10 ou se eram 200 mil. É impossível não se incomodar com a cantilena e não temer – bato 50 vezes na madeira- uma volta da turma do vivendas (e tudo que eles representam de horroroso) ao comando do país. Já tá osso aturar o centrão, os prefeitos e os governadores negacionistas. Xô coisa ruim! Ontem na banca, comprando figurinha Pokémon pros guris, me deparei com a capa da Veja, nem sabia que a Veja ainda existia, e a capa da Veja era sobre a possível volta do cramulhão do norte ao comando dos EUA. Novo embrulho no estômago, novas batidas, agora 500 vezes na madeira, os milicianos do vivendas e sua gangue são uma ameaça ao Brasil, Trump é uma ameaça ao planeta! Santa incompetência Joe Biden!
Fui pro Rio num bate-volta nesta semana, gravar com a Ana Maria Magalhães a narração do Quando o Brasil era Moderno. Finalmente! Em breve, maiores detalhes. Quis o destino que eu estivesse na cidade, mesmo que a trabalho, no dia do seu aniversário. Continua a mesma. Pro ruim e pro bom. Mas sempre melhor onde ela é melhor: na farra. Prêmio Sebrae empreendedorismo para a banca de jornal da rua Laranjeiras com Pires de Almeida, que não tendo mais jornal nem revista pra vender, e pra não virar só um revendedor de isqueiro, carregador de celular e fone de ouvido, virou boteco. O Rio de Janeiro inventou a banca boteco! Nove da manhã vi o caboclo colocando os bancos e as mesinhas na calçada. Onze horas quando voltei já tinha dois sujeitos tomando umas latinhas e duas senhoras de idade avançada e roupa de ginástica fazendo o mesmo. Salve Salve Saravá São Sebastião do Rio de Janeiro! Se a tigrada canalha voltar, se tudo acabar, pelo menos teremos as bancas de jornal pra beber e esquecer! Na Corda Bamba pede desculpas, neste sábado a gerência pifou geral e dormiu. Na corda Bamba, um blog de primeira, que de vez em quando, chega na segunda. Saravá

Tinha tempo que não lia a Piauí e como a deste mês tem desenho do Allan Sieber na capa e chamada pra destrambelhar dedelanhol, comprei. E como não acredito em acasos, domingo passado eu escrevi sobre Veneza aqui na corda, nesta Piauí o poeta russo Joseph Brodsky escreve sobre os labirintos de Veneza. E também sobre os monstros que circulam pela cidade:
No geral todas essas criaturas de pesadelos-dragões, gárgulas, basiliscos, esfinges com seios, leões alados, cérberos, minotauros, centauros, quimeras- que nos chegam da mitologia…são nossos autorretratos, no sentido de que expressam a memória genética da evolução da espécie. Não é de se espantar que nessa cidade nascida na água, abundem essas figuras.
O livro promete, se chama Marca D’água. O nome em italiano é muito mais bonito, Cais dos Incuráveis, o cais construído no século XVI em frente ao Hospital dos Incuráveis, o cais de onde partiam os corpos que seriam jogados para o mar levar.
Claudio Búrigo, velho chapa de Porto Alegre, animado com a corda bamba veneziana escreveu:
O trem de Viena para Veneza parecia luxuoso para mim.
Expresso Romulus acho.
No alto falante do trem:
Benvenutti signori passegeri! Finalmente ouvir algo compreensível depois de 4 meses de isolamento de língua. O trem seguiu pelos campos “perfeitos” da Áustria e senti NOJO. Tudo pintado e rico. Daí muda tudo na fronteira da Itália, em cima dos Alpes, um pouco de neve. A italianada entra gritando no trem. Todos trazem lanches e frutas e talvez ganhei uma bergamota. Final da HORRÍVEL CULTURA DO SILÊNCIO da Europa Central. Vc leva gritos se faz algo errado, mas nunca se pode falar alto ou com emoção. Repressão… A chegada em Veneza foi mágica. Final do dia. Zero graus e muuuita neblina, a nebbia. Barulho de sinos dos barcos na neblina… Alguns lugares não tem aquecimento em Veneza. Fiquei no Albergue. Imenso, um salão com 200 camas eu acho. Visitei as geniais obras de Carlo Scarpa: a loja Olivetti e o Palazzo Querini Stampalia. Devastaram metade dos pinheiros alpinos para fazer Veneza. Todas as construções estão sobre troncos de pinheiros compridos. Por isso vai afundando tudo. Os troncos vão afundando no lodo da laguna. Em muitos prédios o térreo já está inundado. A umidade sobe pelas paredes…. Não é muito salubre essa ideia de ficar em cima da água.
Não resisti e fiz o que não fazia há muito tempo: comprei um quadrinho, a o primeiro Corto Maltese na versão feita pela dupla espanhola Juan Diaz Canales e Rubén Pellejero. Chegou e na mesma hora foi lido com pressa e ansiedade. No final dá uma certa decepção. Mas os caras tentaram. Quando sobrar dinheiro, compro os outros.
João Luiz de Albuquerque, o verdadeiro forrest gump, aquele que foi & viu & ouviu, comeu & bebeu, onde quase mundo gostaria de ter ido, visto, estado, menos na final da copa de 50 que ele viu nas arquibancadas do Maracanã. Tirando isto: a bossa nova, Disney em Los Angeles, Julie London no Copa, Beatles pra Manchete, Janis Joplin no seu fusca, Rolling Stones na macumba, Gil em Montreux, pelada com Bob Marley no time do Chico, e muitas, muitas coisas que a gente (eu e o márcio pinheiro principalmente) morre de inveja e ele nem se gaba e muito menos se exibe ou tira onda por ter estado intensamente nelas todas. É chapa do Leitão, da Sylvia e da Denise, e quando calhar cruzo com todos novamente. Feliz Aniversário velho pilantra gentil, o último da linhagem dos cariocas naquilo que o ser carioca significa.

João é tricolor, assim como diversos amigos e conhecidos. Mas quis o destino que neste domingo o Botafogo, que não é mais para mim um time de futebol metesse um quatrilho de quatro no Fluminense. Meu time é o Grêmio, é o time que torço. O Botafogo é minha seita místico religiosa, onde pago por quase todos os pecados meus e de umas 5000 reencarnações de Shiva. De vez em quando a gente fatura um qualquer.
A Corda agradece a chegada de Antonio Medeiros, mais novo assinante salve salve! Quem quiser fazer como ele, pode assinar a corda nos botões vermelhos lá embaixo ou enviar um pix de qualquer valor para a chave fabpmaciel@gmail.com
A foto de hoje é minha, numa madrugada bêbada no Rio, em outra vida, em outro planeta, em 2009.
na playlist de hoje:
Pedindo benção para a dupla Patato y Totico, abrimos e fechamos a playlist 62 de Na Corda Bamba com eles, que fizeram os cantos e os tambores afro-cubanos baterem mais forte na Nueva Iorque de 1968. Enquanto parte da turma caía no rebolado com o boogaloo, eles voltavam pra velha rumba cubana. Mais no primeiro link de hoje.

Ana Clara Guerra é de Uberlândia e toca um violão bonito pacas. Seu disco Novos Ventos acabou de sair. Conheci o trabalho dela no Instagram, o que prova que rede social serve pra alguma coisa. A Nave mãe segue viagem com música balacão de Funk como Le Gusta e com o cara que sintetiza tudo, absolutamente tudo da música negra americana, tudo ali já ouvimos, tudo ali já sentimos, mas ele nos faz ouvir de um jeito diferente: Kamasi Washington, entre o céu e a terra, o passado e o futuro.


Seguimos no balanço com The Nite-Liters , do álbum de 1973, A-Nal-Y-Sis, ainda bem que é música e não literatura ou terapia. Sem divã e sem sofá, vamos pro blues de Z.Z.Hill, papo furado embromation danado, dá até pra ouvir o bourbon e o gelo na gravação. Nada de embromation com Sharon Jones & Dap-Kings na versão para Just Dropped In, o musicaço de Kenny Rogers. Quantic e Flowering Inferno na versão de Echate Palla. Daniel Salinas é um maestro e pianista paulista que tocou com a jovem guarda e mais uma penca de artistas populares e muito populares. Não dá pra esconder que Straussmania, de 1973 bebe na mesma fonte de Eumir Deodato. Mas vale ouvir. Juanita Euka, volta na corda (já apareceu nas edições 40 e 50) Lucro, conteste e dance com o novo single de Mojjo (Gederson Quintino) com Blurryvison e BaianaSystem. Seja feliz sempre com De La Soul, porque sempre que ouvimos De La Soul, tudo melhora. E logo depois, o não menos sensacional The Sure Fire Soul Ensemble.

Atenção! Dengue, Dengue, Dengue é uma dupla de produtores & dejotas peruanos, com o nome menos apropriado para o momento. Ou não. Mude o giro com Nomade Orquestra, nesta edição em dose tripla, uma curtinha de intro, a classuda Jardins de Zaira e a dançante Agente Russo, que tem a participação especial de Russo Passapusso, o mesmo da BaianaSystem, que canta bola de cristal
Tem boogaloo no blues com Johnny Colon e sua Orquestra. Tem Chico Buarque com Milton Nascimento, numa música que até hoje me dá calafrios: O Que Será-A flor da pele. O que não tem conserto nem nunca terá, o que não faz sentido. Thiago França me faz ficar por lá com Malagueta, Perus e Bacanaço.
Outra descoberta das redes implacáveis: Alexandra Savior, lançando suas flechas, não sei pra onde, pra mim é que não é, mas a moça é ruiva e canta como se estivesse numa pequena espaçonave cheia de reverberação e outras paradas etéreas. Depois dela, Charles Bradley pra nos trazer novamente pro mundo real e verdadeiro da dor de qualquer motivo.


Siba e Chico César juntos nesta pequena maravilha que é Coruja Muda. Ouçam lendo a letra do Sérgio Roberto Veloso de Oliveira, vulgo Siba
Alô, amigo
Eu vim aqui perguntar
Se você pode tirar
Em breve uma foto minha
Não é nadinha
De motivo especial
Só uma foto normal
Que eu pretendo emoldurar
Pois quando o tempo passar
Pode ser que ela até faça
Parte de um museu sem graça que ninguém quer visitar
(Parte de um museu sem graça que ninguém quer visitar)
Na foto eu quero
Vale, montanha, horizonte
Floresta cobrindo o monte
Neblina engrossando o ar, pra quem olhar
Dizer que até está sentindo
Cheiro de chuva e ouvindo
Um trovão no bombardeio
Não é bonito e nem feio
Tudo de nuvem coberto
O longe abraçando o perto e a tempestade no meio
(O longe abraçando o perto e a tempestade no meio)
Não se incomode
Se de repente os insetos
Venham da mata, inquietos
Voando sem direção, perceba então
Fora do enquadramento
Que o tempo passa mais lento
E o menino dá risada
Brinca ligando pra nada
Lindo, correndo e pulando
E diz pra mim, vez em quando, você não sabe de nada
(E diz pra mim, vez em quando, você não sabe de nada)
Não tenha pressa
Pode esperar descansado
Que o vento muda de lado
E empurra a nuvem no ar pra o sol passar
Dentro da chuva um momento
Fazendo a barba do vento
Ficar da cor de urucum
Faça uma foto comum
Do tempo dando um passeio
Se eu nem estiver no meio, não tem problema nenhum
(Se eu nem estiver no meio, não tem problema nenhum)
Pois se eu tivesse
Minha imagem controlada
Só uma foto e mais nada
De mim eu permitira, nela estaria
Meu rosto de meia idade
Olhando muito à vontade
Como quem está meditando
Só quem demorasse olhando
Veria a Coruja Muda
Que ri de mim quando estuda tudo que eu disse cantando
(Que ri de mim quando estuda tudo que eu disse cantando)
Sequência beleza pura total:
a sul-africana Naledi, Lucas Santanna e Duda Beat, Lucas contando como largou o blur pelo forró, daBossa, do ninja Jean Charnaux, que conheci acompanhando Amanda Bravo e Liz Rosa nos muitos bailes Sambalanço no Ouro Verde, chegando aqui bolerando com Julia Mestre.
Mudando tudo com Os Novos Baianos no colégio de aplicação, José Miguel Wisnik com Tom Zé e coladinho com eles Jackson do Pandeiro, na irresistível Capoeira Mata Um. Mudando tudo: Zumbi do Mato e a SEMINAL Potinho de Anhanha. Mudando um pouco tudo: Mariana Cavanellas e Rapaz do Dread. Mudando para chorar com Jards Macalé e seus soluços. Mudando un rato com Richard Hell e a blank generation. Embelezando tudo: disco novo de Laetitia Sadier, uma das vozes da SEMINAL (não vou contar mais) banda Stereolab. Dubando e fumando tudo: Quantic& Flowering Inferno, na versão de Westbound Train. Mudando quase tudo: Archie Sheep em Atica Blues e depois, David Axelrod, autor e intérprete de seu maior sucesso: You´re so Vain.

O Terno parece que fica o tempo todo culpado. Tem nada não, é só ouvir The Nite Liters novamente que passa. Mais funk com Gaston, mais jazz com Bobby Hutcherson, mais Alexandra Savior, agora cantando com o australiano Cameron Avery, mais reggae com Céu, mais amor saia rodada com Rosanna e Zelia uma dupla brasileira que habita parece que em Berlim, mais cumbia psicodélica e salsa mole com Meridian Brothers e mais salsa forte com Bobby Hutcherson bisando.
Na reta final com os monstros: Rufus & Chaka Khan, Quincy Jones, Antônio Carlos Jobim e Patato e Totico fechando a tampa com Jorge Ben. Segura essa!

LINKS! LINKS! E MAIS LINKS
o livro de brodsky:
https://ayine.com.br/wp-content/uploads/2024/03/MarcaDagua_copertina.jpg
sobre o disco “seminal”. demorou, mas chegou, o dia em que escrevi que um disco é SEMINAL! Patato & Totico
ana clara guerra coloca vídeos bem bacanas no seu instagram:
https://www.instagram.com/anaclrguerra/
kamasi washington ao vivo:
o site da nomade orquestra:
kenny rogers canta seu sucesso lebowskiano:
Vitor Rocha dirigiu este documentário sobre a SEMINAL (terceira vez hoje) banda carioca Zumbi do Mato, com o singelo título de: Quem é mais idiota do que eu?
adeus total aos irmãos taviani. noites com sol, 1990
e a playlist!

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