Acordo bem cedo e disposto a gastar uma hora na esteira e quem sabe começar a perder uma parte, mesmo que modesta da minha pança que não para de crescer, sempre incentivada, paparicada e saciada por quantidades muito acima da média de cervejas, sanduíches com bacon, doces e tudo aquilo que os nutricionistas jamais recomendam para ninguém. Enquanto amarro os tênis – eu ainda consigo- ligo a tv e vejo imagens de Fidel Castro e dos soldados cubanos prendendo os mercenários pagos pela CIA na desastrada invasão da Baía dos Porcos. Pronto. Naquele exato momento a esteira foi cancelada e a revolução saudável adiada. Quem sabe amanhã, depois dos mojitos, sin perder la formosura jamás. Nada ia me tirar da frente da tv naquele momento, pois estava passando Memória Cubana, um documentário da Alice Andrade sobre os cinejornais produzidos pelo ICAIC, o Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográfica. Alice entrevistou cinegrafistas, montadores, montadoras, jornalistas, correspondentes, enfim, uma boa parte da equipe que ao longo de quase 30 anos filmou a história recente do planeta com os olhos da revolução cubana. Os fifonhos da centralidade meiatória vão dizer que não é jornalismo, que é propaganda. Como eu gosto desta propaganda!

Durante quase 90 minutos, vi imagens inéditas da passeata dos cem mil, da Revolução dos Cravos, do assassinato de Lumumba, da Guerra do Vietnam, dos protestos contra a segregação racial nos Estados Unidos, da morte de Che, da posse e da queda de Allende, da revolução em Angola, e para a surpresa dos meiofundistas, reportagens sobre a burocracia, comportamento e as dificuldades da Revolução Cubana…Tudo dito como deve ser dito: sem isenção. Sem meio rádio meio televisão, meio dito meio não dito. Tudo com nome aos bois. No Noticiero, golpe é golpe e mané é mané. Um jornalismo assumidamente ideológico. Escancaradamente com lado. Exatamente como fazem os grandes jornais brasileiros. Só que quase sempre, pro lado errado da força. Infelizmente.
No final do filme, um jornalista, acho que era um jornalista, fala que nos anos 60 tinha a ilusão de que a humanidade “cresceria para cima”, na verdade, ele ainda tinha uma ilusão iluminista de que com o avanço do tempo e com a luta de classes, a humanidade iria acompanhar e avançar junto também. Deve ter sido bom ter tido este sonho.

Na Corda Bamba já está em ritmo de férias, mas ela seguirá firme e forte por aqui ao longo de julho. A playlist 77 está como sempre está: bacanuda.
O progresso da humanidade, a diminuição da minha pança e o aumento da minha conta bancária. Utopias.
Saravá!
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A foto da capa desta edição eu fiz em Havana em 2004. Ela mostra o restaurante La Pelota com o outdoor: a verdade não se pode bloquear.

na playlist # 77:
amelinha, ana frango elétrico, ana mazzotti, bob dylan, carlinhos brown, céu, chico buarque, davi moraes e orlando costa, david bowie, dengue fever, depeche mode, devo, eliana pittman, elvis presley, fernanda abreu com afrika bambaataa, francoise hardy, gal costa, girma beyene, grand kalle, joe bataan, john cale, joni mitchell, jota pê e xênia frança, miriam makeba, muddy waters, mustache e os apaches, naná vasconcelos e itamar assumpção, o terço, odetta, orlando week, os garotin, os paralamas do sucesso, pablo vermell e lekinnn, parliament, pluma, sharon jones, the art of noise, the clash, the gap band, thiago frança e a espetacular charanga do frança, vitor assis brasil, wings, yaya bey


LINKS! LINKS! E MAIS LINKS!
Carlos Alberto Mattos fala do filme de Alice Andrade:
o ICAIC tem instagram: https://www.instagram.com/cubacineicaic/
liberdade para lumumba. o icaic dá nome aos bois:
racismo no alabama:
fidel no vietnam:
e a mariana martins villaça fala sobre como os cubanos viram o mundo através do ICAIC ao longo de quase 30 décadas:
enquanto isto, toco lenzi, o ninjalino errante e entrevistado desta corda, segue perambulando com sua moto pelo mundo. agora o ilustre cidadão do bairro da pompéia anda ciscando por ulan bator e pelas estepes e pradarias da mongólia.
chaka khan no tiny desk!
e a playlist:

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