na corda bamba 155: tá pensando que tudo é futebol?

Semana passada a gripe deu bom dia, boa tarde e boa noite. Resultado: a agenda foi pras picas. A capricorniana que divide a vida comigo não se comoveu: ainda bem que tu tomou vacina, e se a tosse não tá passando, upa neguinho na estrada, upa na diogo de faria pra lá e pra cá. Se eu não tivesse com afta, até faria uma serenata pra ela. E fui eu que caí de morar na janela dela, da moça que fica sentada na cama anotando seus sonhos enquanto eu faço um remédio da minha cabeça, misturando cachaça com limão e mel de abelha e sem bicarbonato de sódio, e eu digo pra ela e pra gripe também, que elas me deixam doído, mas só não me deixarão doido porque isto sou, isto já sou. Perdão Moraes Moreira, nem sempre eu sei o que dizer e tenho que envergonhar os versos alheios. Esta é mais uma edição de prosa instantânea, canibalizadora de almas vivas e mortas, ruim como nescafé e metida a besta como café colombiano. E vamos em frente pra esquecer esta semana entupida e ranhenta.

a taça é nossa e a cachaça também. foto do site mapa da cachaça, de onde eu também peguei a foto da capa desta edição.

sim, tô pensando que tudo é futebol

Quinta rolou a estreia do Ancelotti na seleção. Antonio e Vicente que estavam animados na frente da tv, penaram com 90 minutos de tédio profundo. Talvez algum dia eles consigam ver a seleção jogar bem. Mas vai demorar. Temos que admitir o óbvio: esse time é fraco. Ah, mas na Europa eles arrebentam. A Europa é uma mediocridade disfarçada em legião estrangeira. Tem craque? Sim. Mas eu gosto de futebol AE (Antes da Espanha). E como todos jogam no a la minuta castelhano… O tédio não é só no campo. A transmissão do SporTV parece comida de hospital e a Globo tenta vender uma empolgação inexistente. Tem o entorno: as bets, os penteados dos jogadores, a cafonice dos uniformes- com texturas que parecem papel de parede de vovó inglesa- a horripilante iluminação das “arenas” (na final da euro eu descobri que Hans Donner está vivo em Munique), tem uma parte considerável de torcedores e jogadores nazistas, tem os cartolas e os patrocinadores…

Mas como desgostar do futebol? Impossível. Sábado fui no Museu do Futebol. Se eu tivesse que escolher 3 museus que refletem nosso país, sem ser só pelo andar de cima, eles seriam o Museu Afro Brasil, o Museu do Pontal e o Museu do Futebol. Na parede debaixo da arquibancada do Pacaembu, as bandeiras dos times grandes e pequenos se igualam na doença, na alegria e na tristeza. E o momento atual é triste! Ontem contra o Paraguai o time foi melhor, pelo menos mostraram raça. Mas o jogo foi tarde e os guris dormiram.

fósforos de segurança

Negação

é a palavra do momento. Trump, Musk, Bannon, Big techs, todos negam, todos se lixam pra verdade, todos desafiam a verdade, mesmo que a verdade esteja clara, cristalina e mais escancarada que moça na vitrine da zona vermelha. Negar, negar, negar 1000 vezes. Nethanyiahu e os sionistas negam o genocído contra os Palestinos. O Museu Judaico nega o genocídio. O governo de Israel nega que capturou ativistas em águas internacionais. A imprensa brasileira replica a negação de Israel. A negação acontece por três motivos: ignorância, interesse ou mau-caratismo. O rezador de pneu se ajoelha por ignorância. O agroboy que fecha estrada com trator, nega e age por interesse. O deputado chupeta, a deputada delegada, o senador belzebu dono de hospital, estes negam e agem por interesse. E tem os analistas do sistema financeiro e os jornalistas que não são donos de financeira e nem de jornal. Estes agem por mau caratismo disfarçado de interesse. Tem um zé ruela, Mario Sabino, nunca tinha ouvido falar, o cara escreveu que Israel salvou os ativistas, a Greta e sua turma, do Hamas…Fui conferir o histórico do porongo: escritor, tradutor de Umberto Eco. Ou seja, burro o cara não é. Mas seguindo na ficha corrida, o Sabino foi cumparsa do Mainardi, na Antagonista e na Crusoé. Portanto, ficha 3 também: negacionista por interesse, mas principalmente, por mau-caratismo.

Bozo e seus patetas negam o golpe. A imprensa nega que a economia tá muito melhor, nega as barbaridades do Tarcisio, nega a mediocridade, a incompetência e obtusidade da imensa maioria da oposição. E quando não nega, distorce, ameniza, atenua, modifica, reinterpreta e se utiliza da cassetada de eufemismos que eles inventam pra tirar o cu sujo (e o deles) da reta.

Já cancelou sua assinatura da Folha? Do Globo? Do Estadão, da Zero Hora? Troque seu cachorro por uma criança pobre!

Lula foi condecorado pela Academia Francesa (segura esta Merval! Teu bigode tá esmerdolado de tanta inveja!), voltou pra casa com acordos de 100 bi de euros e o que disse a nossa imprensa? Necas. O Jornal Nacional não mostrou a homenagem. Quando Dr.Roberto ganhava diploma da Academia Literária de Barbacena enviavam o Bial pra babar na bagaça.

auto-ficção é na auto-escola fom-fom

Minha amiga Isabel queria tanto que eu tirasse carteira de motorista que até resolveu me pagar uma auto-escola, e eu claro, escolhi pelo nome, fom-fom, no jardim botânico e lá ia eu cedo pra Lagoa deixar todo mundo puto por errar a marcha e ajudar mais ainda com o engarrafamento na entrada pro Rebouças e a carteira ficou pra nunca mais…Um conhecido Alexandre Cosley publicou um atestado de óbito da literatura brasileira no fb, num texto que ganhou os aplausos de um lado e uma chuva de vaias do outro. Num raro caso de nem lá nem cá, baixou um momento tucano (saí deste corpo que não me pertence!) e achei que muito do que ele disse não tá fora de sentido:

O Brasil está analfabeto. Publica-se muito. Lê-se nada. E não no sentido simbólico, metafórico ou filosófico — está deixando de ler literalmente. De não abrir livros. De não folhear. De nem encostar. O livro virou aquele primo chato que só aparece no Natal e mesmo assim vem com dedicatória. E a literatura? Essa se olha no espelho e se acha belíssima, mesmo diante da nossa fratura civilizatória. O que temos assistido é a ascensão de uma literatura voltada quase exclusivamente a nichos, muitas vezes escrita para circuitos fechados — sejam eles universitários, identitários ou mercadológicos —, com reduzida interlocução com o público geral e com as experiências concretas da maioria da população. A quem serve uma literatura que não forma leitores?

O texto cobre outros pontos, e eu não tenho autoridade nenhuma pra dar pitaco neste terreno. Mas, mesmo assim, dou. Educação e Leitura são os nossos fracassos civilizatórios. A negação da educação sempre foi projeto. Bato e insisto nesta tecla, que é a tecla que o Anisio, o Darcy e o Paulo Freire batiam. Sobre vender pouco ou muito. Desde que me entendo por gente vejo editores e escritores reclamando da miséria e de leitores reclamando do preço. Mas (pode ser que isto tenha ficado no passado) volta e meia aparecia uma notícia assim: Grupo Espanhol compra editora Capilé por 300 milhões. Franceses compram Livraria Sebolina por 100 milhões…Lavagem? Não creio…E por fim, sobre auto-ficção e identitarismo. Eu ainda acho que o importante é o livro ser bom. E, muito dos livros que li e gostei de verdade nos últimos tempos, eram auto-ficção ou identitários.

Márcio Pinheiro segue a conversa sobre a memória:

Criei fama de ter boa memória. Bondade dos amigos. Minha memória até que é bem acima da média – embora só há pouco tenha me dado conta disso – e talvez por isso mesmo não tenha causado em mim o deslumbramento que muitas vezes causa nos outros. Primeiro, porque sempre achei que memória não é um dom, apenas uma capacidade de saber organizar datas, ideias, projetos e sugestões. Logo, algo acessível a qualquer um. Segundo, porque sempre dei à memória o tratamento que ela merece: minha desconfiança – e daí criei uma segunda fama: a de guardar papéis, jornais, revistas, discos, gravações e qualquer outro material que julgue que um dia poderá me ser útil. Isso fez com que meu quarto (quando ainda morava com meus pais) e minhas casas se transformassem em museus dos ácaros.

“Difícil não é escrever, difícil é tomar nota”. Captei essa citação agora (de cabeça) para me socorrer. É do Ivan Lessa e diz muito sobre a atividade que exerço. Acredito que o jornalismo – ainda que focado em dados atuais e, muitas vezes, em prognósticos – não pode dispensar a memória. Ainda me espanta o desconhecimento de muitas pessoas sobre fatos que aconteceram logo ali, numa das primeiras curvas da memória, seja com personagens importantes (são pouco os que ainda se lembram de Luiz Carlos Prestes, Richard Nixon, Farrah Fawcett, Sandra Bréa ou Johann Cruyff), quanto de figuras efêmeras (que fim levou a freirinha de Goio Erê? Aquela, para quem não lembra, que trocou de lugar com um sequestrado no interior do Paraná e, meses depois, conseguiu ser recebida pelo Papa).

“O Brasil é um país que a cada 15 anos esquece o que foi feito 15 anos antes”. Essa é outra citação (igualmente do Ivan Lessa) que também recupero (de cabeça) para comentar uma meia-verdade. O Brasil, de fato, é desmemoriado, mas não é um caso isolado. A amnésia é algo quase universal. E antes que me acusem de saudosista ou de ligado apenas em cultura inútil (ah, disso me acusam bastante e até já tenho uma resposta-pergunta pronta: “afinal, o que é cultura útil?”) saco derradeiramente uma citação que talvez justifique tudo o que já escrevi até agora: “A experiência com fatos acontecidos pode ter a mesma utilidade que um carro com faróis voltados para trás” – essa é do Pedro Nava.

uma lista com dez listas inúteis

01-dez grandes contribuições do CQC pra tv brasileira.

02-dez grandes pensadores de direita no brasil.

03-dez grandes contribuições da faria lima ao brasil.

04-dez coachs legais.

05-dez grandes realizações do atual prefeito de porto alegre.

06-dez grandes realizações do atual governador do rio grande do sul.

07-dez grandes realizações do atual governador de são paulo.

08-dez canções razoáveis do sertanejo universitário.

09-dez grandes lideranças do bem surgidas nas jornadas de 2013.

10-dez grandes juristas de curitiba.

O video vinheta de todas as cordas. Darcy Ribeiro defendendo o Brasil :

coloque um saci na parede da sua casa:

Coloque na sua casa ou no seu escritório uma das incríveis colagens dos Seres Imaginários do antonio, do vicente e do fabiano, técnica mista, super A3 (47,7 X 32,7 cm) papel couche 250g R$ 120,00 frete incluído para qualquer lugar do brasil CONFIRA TODOS NOS DESTAQUES FAVa no meu instagram @fabpmaciel

saci-pererê transformer,os seres imaginários do antonio, do vicente e do fabiano, técnica mista, super A3 (47,7 X 32,7 cm) papel couche 250g R$ 120,00 frete incluído para qualquer lugar do brasil

A playlist # 126 já tava prontaquando eu ouvi que ou morre o sonho ou morre o sonhador

sly demais
brian wilson demais

Ela já tava pronta, começando com o Milton e a Esperanza. Já tava com o Julio Reny nos destaques e com um balaco do Sly & Family Stone. Mas aí veio a notícia da morte do Sly e eu aproveitei o atraso pra acrescentar uma de minhas favoritas: Hot Fun in the Summertime. E aí chegou a nova do Mateus Fazeno Rock, com uma letra tão dilacerante- A Arte Mata– que não deu pra esperar a 127. E aí um dia depois o Brian Wilson partiu também. Então a 126 tem Sly porque já tinha e porque não poderia deixar de ter. Tem Brian Wilson porque Brian Wilson e Beach Boys foram os meus Beatles depois dos Beatles. E a 126 tem baladas sangrentas e deprimidas, tem levadas desencantadas e pessimistas. Tem balacos pra dançar até cansar, porque, mais do que nunca, é preciso dançar. E tem beats, punks, rajneeshs, porque tem o Julio Reny e tem o Julio Reny porque tá rolando um filme sobre ele. Julio é autor de versos como este:

sim eu vi heróis na chuva, caminhando na escuridão, sem nenhuma armadura, protegendo o coraçãobatman, um corto maltese, homem aranha, o monstro do pântano, porque fomos nascer no lado escuro do rio, sozinhos

O bar se chamava 433. Tinha um palco pequeno e nele cabiam um baterista, que segurava a onda apenas com um bumbo, um prato e uma caixa. Apertado num canto, um percussionista, que tentava desviar do guitarrista, um guri alucinado chamado Edu K, que fazia a coisa mais próxima de Prince que a cidade poderia ter. No baixo e nos vocais Julio Reny. E naquela semana de 85 eu não saí do 433 porque Julio Reny & Expresso Oriente estava por lá. Em 1985 dava pra se dizer que Porto Alegre era uma cidade rock´n roll, certamente a mais rock´n roll do país. Urubu Rei , Os Replicantes, DeFalla, Atahualpa y os Panquis, TNT…E as dezenas de bandas cover de blues e metal. Mas o Julio Reny era disparado o bardo. Ele era tudo que a gente queria ter: Erasmo, Roberto, Neil Young, Van Morrison, Lupicínio e Bill Whiters. Em 86 eu já estava no Rio e distribuía fitas cassete com suas músicas nas gravadoras, entre os amigos músicos, jornalistas, etc. Quase ninguém embarcava. E eu ficava na frustração e me perguntando se só eu e uma meia dúzia de conterrâneos conseguíamos ver-ouvir a beleza naquelas canções…E pra deixar o cara em casa, coloquei antes um velho beat : Rod Mckuen e depois um velho power trio: Cream.

o verdadeiro herói na chuva
beat e bem acompanhado

na playlist #126 (o link da playlist tá lá embaixo no final)

nada pacíficas
aqui com vocês, aqui pra vocês

milton nascimento e esperanza spalding # mateus fazeno rock # novos baianos # rod mckuen # julio reny # cream # sly & the family stone # the beach boys # pacífica # baby brains # xtc # magazine # os replicantes # mundo livre s/a # the runways # blackfoot # faust # fumaça preta # max romeo & lee scratch perry # siouxie and the banshees # them # willie cobbs # les mccann # little richard # david bowie # anelis assumpção # bel medula # guiga de ogum # kit sebastian # us3 # beats international # grant phabao afrofunk arkestra # jkriv & gabriel oliveira # vasko atanasoki # silver apples # george san # ken boothe # vera fischer era clubber # céu # allen toussaint # king crimson # laetitia sadier # chloe foy # sly & the family stone # red holt unlimited # nightmares on wax # the animals # mombojó # alice coltrane # fagner # gal costa # brian wilson

aquele que sabia tocar e cantar muito
chloe foy mas diz que volta já

links! links! e mais links!

o teaser de amor e morte em julio reny:

julio reny na carta capital:

meu chapa cristiano bastos escreveu esta bio do julio:

descobertas: o poeta beat rod mckuen que tá na playlist com uma faixa-poema sobre a The Co-Existence Bagel shop, que era este lugar em São Francisco: served as a deli/Beatnik hangout where poets and intellectuals could stock up on caffeine, alcohol and food. It sometimes hosted open mics and performances. Bob Kaufman even wrote about the spot in “Bagel Shop Jazz.”

uma matéria sobre o que aconteceu com os picos beats:

https://www.sfgate.com/chronicle-history/slideshow/What-became-of-the-Beatnik-hangouts-in-S-F-192114.php

descobertas: jim dunnet, o escocês voador me apresenta um tal de dave allen

felicidade é assistir peter sellers em looping:

não caia em negação: assine na corda bamba ou apoie este blog destrambelhado com qualquer valor na chave pix fabpmaciel@gmail.com

paz! saravá!

e a playlist # 126